quarta-feira, 9 de agosto de 2017

A reviravolta que mudou a nossa vida!

A última novidade deste artigo tripartido é a melhor. Aliás, é sempre de bom tom deixar o melhor para o fim!

Como revelei no artigo anterior (A reviravolta de uma vida - parte II), a nossa união deu o seu fruto em Setembro de 2016, sob a forma de um pequeno anjo! O F.
Poderia enveredar num belo texto a explicar as maravilhas da gravidez e da maternidade, mas já existem muitos (e bons) blogues que retratam essas bonitas etapas de uma vida. Então, como simples pessoa que gosta de partilhar as peripécias de um casal igual a tantos outros, vou falar dos mistérios que fui desvendado ao longo dessas duas fases.

Começo pelo princípio: pelas 37 semanas que estive em estado de graça.
ADOREI! Cada segundo, cada pontapé, cada noite mal-dormida. A sensação de estar a gerar vida é qualquer coisa de fenomenal. O F facilitou imenso a tarefa, porque foi um embrião/feto/bebé muito calmo e rotineiro. Não tive enjoos, a azia apareceu apenas nas últimas semanas e o refluxo era um problema que não era novidade para mim. Tudo a correr como um sonho, considerando que se tratava da minha (nossa) primeira gravidez.
O que não esperava era o efeito que a gravidez tem nas pessoas que nos rodeiam. As aulas de preparação para o parto não nos falam nisso, nem tão pouco nos preparam para as  histórias que decidem contar de algo que correu mal, mas que "não te vai acontecer, certamente"!

Ainda estava a viver a fase inicial do choque da notícia quando surgiram os primeiros "intervenientes". A notícia teve que ser mantida em segredo pela sensibilidade que representam as primeiras 12 semanas. Mas, como trabalhadores independentes, tínhamos que salvaguardar a pausa que o momento exigia. O meu chefe do hospital foi o primeiro a ser comunicado e logo se encheu de conselhos e avisos como bom recém-pai. Talvez pelo facto de sermos o primeiro casal com quem poderia partilhar tal sabedoria, já que tinha sido recente a sua paternidade e não tinha ninguém no seu grupo a quem aconselhar, não se inibiu de ser curto e direto. "A vida como a conhecem acabou!" foram as suas primeiras palavras, seguido prontamente de um "mas vai valer a pena". Ora, se a notícia má vem em primeiro lugar, dificilmente conseguimos concentrar-nos no que de bom possa vir de seguida. Lembro-me que pensei imediatamente que a maternidade talvez não fosse tão mágica como esperava e que ter um filho fosse obra do Diabo. Mas, carago, não podia ser assim tão mau! Ou seria? A verdade é que essa máxima foi repetida em todos os encontros posteriores, sempre com muito ênfase... tanto no bom, como no "mau".
Após os devidos anúncios às chefias, tivemos algum tempo em que digerimos a gravidez em privado. Esse período permitiu-nos acalmar, organizar a nossa vida e.... sonhar! Sim, porque sonhar é uma parte importante de pais de primeira vez. Ainda que comedidos, estávamos ansiosos e muito, muito felizes.

Quando terminou a "quarentena", a escolha óbvia recaiu sobre os nossos pais. No lado do Z, tratava-se do primeiro/a neto/a e a reação foi fabulosa! Estávamos a concretizar os sonhos dos recém-avós! Os meus pais, embora avós de quatro, tiveram uma reação inédita, porque se tratava da filha (princesa!) deles. A distância ficou preenchida por lágrimas de felicidade pura.
Deu-se, então, início a uma série de encontros e de chamadas a informar todos os que nos amam e que nos querem bem, da grande novidade. Neste círculo, sentimo-nos protegidos, amados e amparados para a responsabilidade que se avizinhava.
Quando a notícia chegou ao círculo mais externo, nomeadamente a colegas de trabalho, conhecidos e familiares distantes, aí começou a paródia!


Dos temas mais abordados na sabedoria popular, o parto bate qualquer tópico. Desde rasgões até às pernas, bebés com a cabeça torta ou deformada, ou mesmo descuidos na sala de parto, vale tudo! E não deixa de ser incrível como a pessoa que nos conta tem sempre alguém conhecido que passou por uma situação rara e complicada.
Lembro-me particularmente de uma colega que me falou que conhecia "uma rapariga" a quem os médicos tiveram que cortar até à perna para conseguirem tirar o bebé. Este "desabafo" seguiu-se a ter dito que estava nervosa com o parto! Boa!! Que bela maneira de acalmar alguém que não sabe para o que vai, embora saiba que pode ser difícil! Como ela, muitas foram as histórias de "uma amiga minha" ou de "uma tia da minha mãe" que fazem arrepiar os pêlos do rabiosque (desculpem-me a expressão, mas não é para menos!) e que em nada contribuem para preparar uma mãe para a difícil tarefa que é deitar o filho cá para fora.
Ouvi relatos de ferros espetados em sitios menos próprios, de médicos com mãos a mexer - lá está - em sítios menos próprios... Porque, diga-se em abono da verdade, o parto gera-se em torno de um sítio menos próprio! Se gosto de manter o "sítio menos próprio" só meu, escutar tamanhas barbaridades deixou-me menos confortável.

Depois seguem-se os problemas pós-parto: desde mamas a jorrar sangue durante a amamentação, a noites em branco durante todo o primeiro ano de vida.... you name it, we've got it!
Tive uma amiga que decidiu não amamentar o segundo filho. Eu respeito muito a sua decisão agora que passei por isso. É uma responsabilidade assoberbadora e que exige muito da mãe. Foi das escolhas mais difíceis que tive da fazer nas primeiras horas após o parto. A enfermeira C que me acompanhou no pré e pós parto - a quem agradeço do fundo do coração todo o apoio e sabedoria partilhados, e, acima de tudo, o carinho - não se cansou de falar precisamente das exigências da amamentação. Mas estes foram relatos construtivos e preciosos. Não como aquele em que me disseram que tinham ficado com o mamilo desfeito e cheio de cicatrizes (bela imagem da amamentação) ou, mesmo, a história da "amiga" que ficou com uma mama maior que a outra.
Se o corpo já sofre uma transformação radical, não há necessidade de adicionarem pinturas de Picasso à imagem mental que uma pessoa vai construindo.

No estado mental normal, estes relatos são filtrados e colocados de parte como informação sem relevância. Na gravidez, altura em que as hormonas fazem uma bailarico constante que nos coloca numa montanha russa emocional, estas informações apoderam-se da nossa vivência diária e ganham um papel preponderante.

Posto isto, quero agradecer todas as pessoas que partilharam as suas histórias Hitchcockianas: pelo medo que me instigaram, levando a uma preparação mental para a gravidez que nem campo de treino dos fuzileiros; pela antecipação que geraram, fazendo com que organizasse um mapa mental de tudo o que poderia acontecer; mas, acima de tudo, pela imagem que contruíram, porque fizeram com que a verdadeira tarefa de parir e de ser mãe pareça a função mais fácil do mundo.
Não vou mentir - tivemos uma sorte enorme com o F., porque é o ser mais sociável, bem-disposto e colaborante que podia imaginar. Mas a paciência, a compreensão e a sabedoria, essas vieram dos relatos que nos prepararam para o pior e que, na verdade, continuam a ser aquilo que são: "histórias que uma amiga minha me contou"!

Beijo,
J