sexta-feira, 9 de outubro de 2015

"Chico-espertismo" de condução!

No seguimento do último post, achei por bem partilhar convosco um dos temas que mais esgota a minha paciência: o trânsito!

Quem me conhece, sabe que conduzir, para mim, é um momento de expurgar todos os meus males. O controlo sobre a velocidade, sobre a direção, sobre o destino deixa-me bastante confortável, mas os "obstáculos" que encontro pelo caminho levam-me à loucura. Para mais, o trajeto que percorro é um dos melhores exemplos do "chico-espertismo" (perdoa-me o roubo, Z, mas não passa disso mesmo!). 

Para que vos consiga demonstrar a verdadeira prova da minha "queixinha", aqui fica um dia normal na minha existência, com um aviso conhecido:

QUALQUER SEMELHANÇA COM A REALIDADE É PURA E MERA.... VERDADE!!

O despertador toca! O despertador toca! E o despertador toca!
Acordar é uma experiência penosa que não me habituo por mais vezes que a repita. E a batalha leva, inevitavelmente, a que saia de casa sempre com 7 minutos para chegar ao emprego! Ora, não é fácil... mas não seria impossível, se tivesse o caminho só para mim!

A experiência começa logo à porta do prédio. Costumo deixar o carro paralelo ao passeio e com espaço razoável entre os carros, mas, por qualquer motivo, os meus vizinhos decidem apertar um bocadinho mais. A real vontade? Bater-lhes na traseira quando tiro o carro, mas a culpa seria minha e a multa tende a ser... chata, na falta de melhor termo. 
Nem 50 metros mais à frente, deparo-me com o segundo obstáculo:
Não sei se será característica do bom 'Tuga, mas sempre que há o sinal de rua sem saida, a malta pensa que pode estacionar como lhes dá na veneta. Ambos os lados do caminho ocupados, sem qualquer preocupação se passam carros ou não. Mais valia colocarem um sinal de parque de estacionamento - poupavam tinta no sinal e dinheiro na licença. Acaba por ser uma prova para testar até que ponto conhecemos as medidas do carro. A chatice é quando temos uma banheira em vez de um mini... enfim!

Ao chegar à rua principal, deparo-me com uma das piores invenções de todos os tempos: rotundas!! Pior - uma rotunda seguida de triângulo com 3 saídas!!!
Gostava que me explicassem como é que alguém concluiu que colocar um círculo no meio de uma estrada ajuda a escoar trânsito. Analisando a questão, vejamos os prós e contras:
Prós:
  1. hummmmm....
  2. continuo a pensar....
  3. não, não me vem nada à ideia!
  4. ah, já sei!!!! .... desculpem, estava a pensar num carrossel!
Passemos aos contras.
  1. náusea e tontura;
  2. confusão sobre quem entra primeiro (sim, porque ninguém espera por ninguém, mesmo quando há uma rotunda no caminho);
  3. alguém sabe dizer em que faixa me coloco se sair na 2ª saída????
  4. passadeiras à saída da rotunda! nem vou desenvolver este tema, senão não saíamos daqui!
  5. as poças de águas que ficam das fontes maravilhosas construídas no centro e que nunca estão ligadas!
  6. a sinalização cujo intuito é ajudar, mas contribui para o aumento da náusea!
Pois, a votação é unânime! Mesmo assim, tenho que ultrapassar a bendita rotunda todos os dias! E sempre atrás de alguém que decide percorrer esse círculo infernal à velocidade torpedo de 20 Km/h!

Regressando à linha reta, permito-me acelerar um pouco para compensar o tempo perdido até então. O carro sofre, porque as estradas apresentam mais buracos que a renda portuguesa, mas consigo queimar preciosos minutos na minha odisseia. 

Eis que chega à fatal, mortífera e inigualável rampa de subida com semáforo! Pois é, meus amigos, nada melhor que um ponto de embraiagem para começar o dia!! Ainda que possa admitir que me safo melhor a cada dia que passa (muitra prática, como devem calcular), os condutores que me antecedem não devem partilhar da mesma opinião. Entretanto o sinal fica amarelo e o filha da *%&$ que deixou o carro ir abaixo e levou 3 tentativas até arrancar, passa e eu fico à espera que o semáforo vire novamente! Que karma!!!

O resto do caminho pode ser descrito em 4 palavras: mulheres, taxistas, camiões e idosos!

Recentemente, desenvolvi uma aversão aos idosos no período entre as 08h30 e as 09h30! Perdoem-me todos os idosos que conheço (se bem que as pessoas que conheço são apenas jovens de tenra idade com cabelo esbranquiçado!!), mas o mundo não acaba se não forem às compras às 08h45 da manhã!!!
Ainda que a missão seja entrar no LIDL, Pingo Doce ou MiniPreço ao toque de entrada, o caminho para lá é feito com vagar e zelo... em demasia!! Não avançam a mais de 40Km/h, travam quando o semáforo fica amarelo e dão cedência a toda a gente. TODA A GENTE!!! 

Já vos disse que tenho 7 minutos para chegar ao emprego?!


Em relação às mulheres, uma pequena ressalva, pelo bem da minha integridade fisica:

[Meninas, sei que irei falar contra o nosso género, mas há verdades que, embora custem, temos que as admitir! A maioria das mulheres é uma nódoa a conduzir! Temos poucas que são excelentes condutoras e equilibram a balança, mas Minha Nossa Senhora - as más são mesmos MÁS!!]

Para contextualizar, é importante referir que tenho uma escola no caminho para o emprego. Portanto, existe uma condicionante muito importante neste ponto: mulheres a conduzir com crianças no carro!
Como se já não fosse suficientemente mau ter uma mulher a conduzir à minha frente, tenho uma mulher que assume todos os cuidados (necessários e desnecessários) para chegar à escola sem perigo. A questão é que tudo o que faz É um perigo! Travar de repente, virar sem pisca e manobras difíceis, feitas o mais devagar possível!

Entretanto aparece um camião que foge às autoestradas para evitar as scuts e que dificulta todas as manobras, visto que as nossas estradas não foram feitas para veículos com medidas acima do comum carro de família.

Tudo a ajudar! E o relógio não pára!

Eis que chego à reta final! Ao derradeiro quilómetro! 
Avisto o edifício e penso que será possível não atrasar mais! Estou aliviada que terminou! Mas..... uma única passadeira, colocada estrategicamente a meio da reta, revela-se um obstáculo à medida! 
Já alguma vez sentiram que, quando estão a aproximar-se da passadeira, aparece toda uma multidão para passar que não estava lá no minuto anterior? Pois, acontece comigo! 
Quase arriscaria a dizer que se trata de um grupo de militantes que se esconde pacientemente a aguardar a minha aproximação, só para que eu possa resfrear a minha ânsia de chegar a tempo e horas. 

E chego ao destino. 13 a 14 minutos atrasada, com os consumos do carro no máximo devido aos inúmeros "pára - arranca" e frustrada, Muito frustrada! Ainda por cima, terei que repetir tudo no caminho para casa!


O único aspeto positivo acaba por ser os inúmeros sorrisos e gargalhadas que proporciono ao Z no decorrer de toda a viagem! Ao menos que alguém saia feliz desta experiência!


Beijinhos e abraços,
J

P.S:
Realizar esta travessia por mares de asfalto pode ser um perigo ainda maior quando decidimos expressar o nosso desagrado para com os outros condutores. Assim, se souberem pelo JN a notícia de uma jovem que foi atacada de forma violenta enquando conduzia de manhã para o trabalho, não se espantem! Serei eu, certamente. Pelo menos, estou a por-me a jeito!
Mas, carago, não me calo!!!

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

"Chico-espertismo" de Centro Comercial

Olá a todos!

Passou-se muito tempo (demasiado tempo) desde a última vez que vos escrevemos neste nosso cantinho. Na verdade, quando o corpo se deixa levar pela preguiça, quando a rotina nos assalta o espírito, e nos aprisiona na sua temível e imparável engrenagem, as horas tornam-se dias, meses, e o que planeámos fazer "dentro de uns tempos" acaba por ser adiado ad aeternum.

Escrever aqui, para além dum excelente exercício mental e do enorme prazer que proporciona, tem também em si algo de docemente catártico. Há muitos de vós que nos conhecem pessoalmente, e sabem perfeitamente que não recusamos uma boa dose de prosa catártica de quando em vez. Pessoalmente, sinto-me agradecido (e até surpreendido) que tantas pessoas gostem ou sintam falta das barbaridades que para aqui rabisco.  

Numa semana dominada pela recta final de uma intensa e prolongada mudança de habitação, em que possivelmente me tornei cliente VIP da loja de materiais de construção (e mais umas coisas), cujo nome ninguém sabe proferir correctamente, mas que tem nome de mago (Merlin), e também da conhecida loja de mobiliário sueco (que todos sabem qual é mas que, curiosamente, também ninguém sabe a forma correcta de proferir aquelas quatro letrinhas), preciso muito, muito, muito duma boa dose de catarse. Oh, se preciso...

As idas ao Shopping são, para mim, um martírio. Por princípio, odeio ter de gastar demasiado tempo a fazer compras de qualquer tipo, porque acho que já desperdiçamos demasiado do nosso precioso e raro tempo livre com coisas inúteis, como ver a cada vez mais fastidiosa e insípida televisão, ou a aturar clientes malucos e patrões prepotentes. Gastar tempo tão valioso -  que deveria ser passado a ler, ou com amigos ou família à volta duma mesa, a beber uns copos ou à roda de jogos de tabuleiro, ou a brincar com os nossos filhos, ou a fazer o amor de forma despreocupada, despudorada e imparável (e tão mais felizes e em forma poderíamos andar se gastássemos mais tempo nesta última actividade...) -  na obtenção de artigos que, na sua maioria, são efémeros e facilmente substituíveis, não faz lá muito sentido, não acham?

Não digo que não seja importante escolher bem o que vai para o nosso frigorífico, ou que tipo de mesa queremos para a sala, ou até mesmo qual o par de calças que melhor nos assenta. Devemos dar asas ao nosso bom gosto e fazer escolhas sensatas. Mas, porra, não estamos propriamente a tentar descobrir a cura para uma doença grave, ou a tentar resolver elaboradas equações matemáticas. 

O processo não podia ser mais simples:

Preciso do artigo Y   -   Encontrei o artigo Y   -   Paguei   -   Vim embora   -   Aproveitei bem o resto do tempo que sobrou a fazer algo realmente espectacular, como construir um puzzle.

O problema é que, como sempre acontece, não é assim que a grande maioria da população portuguesa se comporta, especialmente nesta altura do ano (Verão). Aquilo que, em teoria, é um processo simples, passa a ser um intrincado jogo de sombras, tácticas sujas, guerrilha urbana, muito por culpa duma nova "seita", cada vez mais numerosa e implacável, sem líderes mas com fiéis seguidores. Falo, obviamente, dessa quase "bandeira" do nosso pais: o chico-espertismo. Mais concretamente, o "chico-espertismo" de Centro Comercial.

No final de contas, de quem falo?

Daquela malta que vai para o Shopping e que insiste em estacionar em 2ª fila num estacionamento subterrâneo, só porque tem de ficar a centímetros da entrada para as escadas rolantes, porque mexer as putas das pernas custa muito, e o carro ali parado nem incomoda nada. Invariavelmente temos os pisos -1 repletos de carros, carrinhos e carretas, muitas vezes mal estacionados - ou, como gosto de dizer, estacionados "à filho da puta", a ocupar o lugar de duas viaturas, ou num lugar para deficientes, só porque a malta é tão estúpida e preguiçosa que nem se dá ao trabalho de procurar o piso -2. Se assim fosse, meus amores, se os pisos -2 ou -3 fossem meramente espaços decorativos , os rapazes que projectaram estes estabelecimentos, não se tinham dado ao trabalho de os criar, certoooo?

E ali, logo ali, não contentes com os péssimos estacionamentos feitos, as pessoas dão continuidade às suas maratonas de exuberante estupidez, atropelando-se nas entradas para as escadas ou tapetes rolantes, acreditando possivelmente que entrar à frente de todos os outros, muitas vezes com tentativas de abalroamento, vai fazer com que ganhem alguma taça ou medalha. E, não contentes com isso, mesmo vendo que o espaço exíguo que separa as barras laterais das escadas ou tapetes estão carregados de outras pessoas, decidem "furar". Porque, reparem, o grande objectivo de fazer escadas ou tapetes ROLANTES, é precisamente que tenhamos possibilidade de poupar as pernas durante aqueles 15 metros. Senão, chamar-lhes-íamos só "escadas". Ou "tapetes". Não seriam rolantes. 

Finalmente chegámos aos pisos do Shopping, e a "festa" continua. Gente que decide parar sempre nos piores locais, porque achou um artigo interessante, e pensa que pode parar em qualquer lugar, mesmo que seja "hora de ponta" no Shopping mais movimentado da cidade, e aquela paragem esteja a colocar em dificuldades os restantes transeuntes.São estes energúmenos, muitas vezes, os mesmos que fazem a mesmíssima coisa, mas com um carrinho de compras ao lado, nos estreitíssimos corredores dos Hipermercados. 

Ou aquela malta que, no preciso momento em que o piso da Alimentação está a abarrotar, e onde muitos estabelecimentos não permitem pagamentos com multibanco, decide ir pagar as contas do mês na única ATM disponível num raio de 300 metros. E porquê? Porque é gente que, na sua génese, possui o mesmo nível de inteligência que uma rocha de 2 toneladas. São burros como cêpos. São como calhaus. 


É a malta "tolinha" pelas promoções. A malta que, quando o atum em lata está 3 cêntimos mais barato, sai de casa a correr, muitas vezes bem cedo pela manhã (que será quando a estupidez está no seu auge, devido ao lento funcionamento do cérebro por essa hora) para ir para o corredor dos atuns, parar à frente de cada um e tomar a difícil decisão de esolher o atum em óleo ou azeite, com 3 ou 4 cêntimos de desconto, para poder comprar umas 100 latas, porque é um investimento espectacular, na cabeça destes chicos-espertos. Isto claro, atravessando o carro em frente às prateleiras dos atuns, para que mais ninguém possa escolher daqueles atuns e, se possível, para impossibilitar a circulação naquele corredor aos demais clientes. Porquê? Porque sim.  

Esta é a malta que faz fila à porta daquele outro supermercado -  que tem dinheiro de sobra para fazer promoções inacreditáveis nos dias 1 de Maio de cada ano, obrigando os trabalhadores a passar por autênticos infernos ano após ano, mês após mês, em troco de ordenados de 200 ou 300 euros - desde as 6 da manhã, porque os garrafões de água estão super baratos e é melhor levar umas boas dezenas de garrafões, não vá haver uma catástrofe natural ou um ataque nuclear nos próximos dias que nos deixe a todos dependentes dos nossos abrigos subterrâneos e dos alimentos que lá temos armazenados. 

Os mesmos que, não obstante a fila interminável por que passaram (isto quando não conseguem passar sorrateiramente à frente dumas quantas pessoas, ou quando não decidem levar com eles um bebé que não é bem um "bebé de colo", que até foi sentado a puta da viagem toda dentro do carrinho, mas que é suficientemente pequeno para justificar que passem à frente nas caixas prioritárias), decidem perder 10 minutos no acto de pagamento, porque tinham um cupão que os ia fazer poupar 80 cêntimos numa compra total de 100€, infernizando a vida às meninas que trabalham nas caixas, obrigando a que por vezes seja quase necessário chamar o presidente da junta de freguesia local para resolver a situação.

E aquele riso de conquista com que abandonam o local, depois de obterem exactamente aquilo que pretendem será possivelmente uma razão bastante válida para que a criminalidade violenta entre clientes de hipermercado/shopping comece a disparar para níveis estratosféricos.

E quando pensamos que as coisas não poderiam piorar, os "chico-espertistas" conseguem supreender-nos. É que esta malta trabalha bem, mas nunca em missões "a solo". E portanto, toca a reunir a família toda, e assim se passa um excelente fim de tarde. Enfiados num Shopping, a tentar ocupar o máximo de espaço nos corredores dos hipermercados, porque não há nada mais interessante para fazer naquelas miseráveis vidas, de pessoas miseráveis de miseráveis princípios. 

No espaço de uma semana, á custa da mudança de casa, passei mais tempo do que em toda a minha vida numa loja de mobiliário sueco. Corrijo, passei mais tempo do que em toda a minha vida numa qualquer loja de qualquer tipo de mobiliário. E consegui perder cerca de 5% do tempo a escolher e a recolher artigos, e os restante 95% a tentar encontrar caminhos alternativos à estupidez colectiva. 

Um grupo de 4 adultos, por exemplo, achou que seria uma óptima ideia levar consigo um conjunto de sete miúdos (repito, sete!), todos a aparentar 8-10 anos de idade para uma loja de mobiliário sueco, numa tarde de Agosto, só porque o tempo estava mau. Tenho a certeza absoluta que os miúdos adoraram a eperiência, bem como a dezena e meia de pessoas que ficou com unhas pisadas à conta das calcadelas que as correrias das crianças (que deveriam estar a brincar em casa) causaram, e a outra dezena e meia que ficou sem tímpanos durante um bom par de horas, muito por culpa dos berros histéricos que aquelas goelinhas soltavam a cada novo espaço de decoração encontrado. Estou certo que os senhores fucnionários do IKEA ficaram loucos de alegria quando esse mesmo grupo de crianças se dedicou a "destruir" com saltos e pontapés (no fundo, criancices próprias de miúdos de tenra idade) um dos quartos de exposição da loja. Claro que ás bestas quadradas que decidiram levar 7 crianças para dentro dum estabelecimento daqueles, numa altura de férias, isso deve até ter parecido giro. Sim, porque nenhum dos anormais foi capaz de distribuir ali uns tabefes à canalhada. Sorriam e tudo. E quando os vi (aos adultos) deitar-se em cima das camas em exposição, mesmo que tal significasse ter colocado cerca de 30 pessoas a centímetros de ver a roupa interior dum dos elementos femininos do grupo, rindo alarvemente da graçola, pude perceber que, como sempre, as crianças são criadas á nossa imagem. 

E como a prosa vai já longa, e a hora é tardia, nem vos vou falar da senhora que decidiu ir no meio do corredor principal do piso 0, a andar mais devagar que um caracol obeso, a parar de 20 em 20 centímetros mesmo no meio do caminho. Tambem não vos vou confessar que lhe acertei com o carrinho de compras nos calcanhares, não de forma violenta, mas com a firmeza certa para a fazer parar, soltar um "AU!", e fazê-la olhar para o lado, indignada, enquanto a ultrapassava pelo lado contrário.

É que, sabem, nem todos temos tempo de sobra para andar a gastar horas e horas dentro dum shopping, dentro duma loja, só porque sim, ou porque "sopas". Há quem tenha algo para fazer, que se chama "viver". 

Muitos insurgem-se contra a crise de valores que afecta de grosso modo as sociedades ocidentais nos dias que correm. Chamam-lhe, erradamente (na minha opinião), crise geracional. Não podia discordar mais desse termo. 

A tal crise de valores de que se fala é uma conjugação de estupidez, burrice e falta de educação, passada sim, de geração em geração, de forma cada vez mais rápida e descontrolada.

No fundo, o modo como o ser humano português se comporta no Shopping é o reflexo perfeito da sociedade actual. E o panorama não é animador.  



segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Um desabafo nada original!

Sei que temos estado ausentes. Não é esquecimento. Sejamos sinceros, pouco tem sido o tempo livre para fazer algo que não seja trabalhar. Mas não quis deixar passar demasiado tempo, portanto aqui vai...

O desabafo que hoje vos trago poderia ser o desabafo de qualquer jovem adulto português nos dias que correm. Não tentarei ser original, revolucionária ou moralista. Apenas direi o que me vai na alma. Sem censura.


Eu tenho 32 anos. Tirei um curso superior e sempre me considerei uma pessoa dedicada e trabalhadora. Desde cedo, quis conhecer diferentes "labores" e aventurei-me em summer jobs e trabalhos temporários para poder cimentar a minha decisão d' "o que quero ser quando for grande".
Passei alguns obstáculos e travei algumas batalhas até chegar ao ponto de poder afirmar com toda a certeza: "é isto que quero fazer para o resto da minha vida!"

Ao longo deste percurso, tenho sempre presente a conversa dos meus pais sobre como ser licenciada era a única garantia de ter um bom emprego e um bom salário. Resumidamente, eles queriam que eu tivesse tudo o que eles nunca puderam alcançar. 

Pois bem, atingi o meu objetivo académico e o que tenho para prová-lo? NADA!

Ah, peço desculpa: tenho um canudo todo bonito e trabalhado que me custou 60€ e que diz que sou licenciada! Ora, mas que bem!

E agora? Onde está o bom emprego e a remuneração elevada que me esperava ao fundo do túnel? Nem vê-los!!! Sou posta de parte nas entrevistas porque não aceito trabalhar 56 horas por 500€?! Não sou selecionada porque não investi o suficiente na minha formação extra-curricular?! Sou esquecida porque não posso realizar estágio profissional?!

P*RRA! PRESA POR TER CÃO E PRESA POR NÃO TER!

Torna-se cansativo (e repetitivo!) ouvir mil e uma desculpas para não trabalhar ou para trabalhar em condições precárias. Ainda pior, quando nem se dignam a dar uma resposta à nossa candidatura, mesmo quando sabemos de antemão que a probabilidade do "não" é alta. 
Instituiu-se uma cultura do desrespeito e do facilitismo que descura o melhor bem que este país tem produzido nos últimos anos: os jovens licenciados! Riem-se de nós e viram-nos as costas, sem qualquer peso na consciência e sem remorsos. 
ABANDONAM-NOS!
Entretanto, esquecem-se que precisamos de viver! Precisamos de sair da saia da mãe e iniciar a nossa própria vida. Precisamos de pagar contas, precisamos de sustentar uma casa e precisamos de iniciar a vida adulta.

Como se tudo isto não fosse suficiente, ainda nos responsabilizam pelo rumo do país: 
"Porque o país esta envelhecido e a taxa de natalidade tem vindo a decrescer!"
"Porque os jovens estão adormecidos e não se revoltam!"
"Porque não tomamos parte ativa na política do país!"

Sinceramente, as minhas respostas são curtas e grossas:
Não tenho filhos porque não tenho condições para sustentar nem o meu cão (às vezes nem a mim própria) quanto mais uma criança!
Não me revolto porque, quando o faço, não vejo resultados e ainda me chamam hippie por andar na rua com cartazes!
Não entro na política porque está de tal forma corrompida que mais vale apagar tudo e recomeçar da estaca zero!

O que resta?

Sobram os trabalhos temporários ou  à comissão que obrigam a trabalhar demasiadas horas por uma ninharia e as incertezas e fragilidades das prestações de serviços que trazem mais insegurança do que qualquer outra coisa.

Sobra a possibilidade de sair do país e deixar tudo o que sempre conheci para trás em busca do tão prometido emprego bem pago, ou estável, para o qual me matei durante, pelo menos, 16 anos da minha vida..

Sobra a inércia de me sujeitar ao que aparece e rezar para que dê para ultrapassar mais um mês.


Agora, pergunto-me: de que serviu tantos anos e tanto dinheiro investido num curso superior? O que vale ser uma pessoa trabalhadora e dedicada nos dias de hoje? Por quanto tempo devo sujeitar-me à incerteza da minha carreira profissional?

Perguntas atrás de perguntas e respostas: NADA!

Se têm acompanhado as aventuras d' O Tripeiro e da Picarota, certamente imaginam que o amor tem sido constante e que a fantasia de constituir família está ao virar da esquina. Mas como posso viver este sonho se a realidade me puxa pelas pernas e arrasta pelo chão?


Imagino que muitos sintam o mesmo que eu (que nós) e que coloquem as mesmas questões a cada passo que dão. Partilhem! Usem este simples e humilde desabafo para "deitar cá p'ra fora" a vossa revolta.
Estamos todo no mesmo barco e temos que nos unir para sermos mais fortes, para fazermos ouvir a nossa voz.


Desculpem o desabafo.
J