terça-feira, 30 de setembro de 2014

Pessoas que têm medo de bichos no geral (até daqueles que toda a gente sabe que não fazem mal a ninguém)

Ora viva caríssimos amigos, conhecidos, familiares, leitores, seguidores e "pessoas que tropeçam nesta página sem querer e acabam por gostar de tal forma que começam a salivar de ansiedade quando não há publicações durante um período relativamente largo de tempo". Espero muito honestamente, que tudo esteja bem com todos. Eu e a J estamos óptimos! Descansámos, viajámos, vimos pessoas nuas (totalmente nuas, mesmo), mulheres em topless, atravessámos planícies, serras e desertos, banhámo-nos nas quentes e calmas águas do Mediterrâneo, e ainda tivemos tempo de dar um saltito ali à "Pérola do Atlântico", com direito a passagem fugaz por Terceira e S. Miguel, mais uma paragem obrigatória no Faial e uma estadia saborosa, ainda que curta, na cada vez mais surpreendente e mágica ilha do Pico. Tudo isto muito bonito, e incluído aqui para fazer uma invejazita a muitos de vós. 


Na última vez que houve publicação, falou-se dum tema muito sério, que também me retirou noites de sono, que deixou marcas mas que, como em todas as histórias bonitas, vos trouxe o lado menos conhecido, menos colorido e se calhar mais importante daquilo que é esta união tripeiro-picarota. 


Hoje vou falar duma temática muito séria também: pessoas que têm medo de bichos no geral (até daqueles que toda a gente sabe que não fazem mal a ninguém)


Agora que chamei a vossa atenção para um assunto tão grave e pertinente, assumo-me: sou uma destas pessoas! 

Já sei que dúvida vos assalta - "Ah, mas como é possível um ser humano de tamanha altura e possuidor dum corpo tão forte, são e esbelto, ter medo de - sei lá - aranhas pequeninas?". 


Vou tentar argumentar algo que, de certa forma, faça com que pareça plausível que um indivíduo a rondar 1,90m e um peso que provavelmente terá 3 dígitos à esquerda da vírgula, tenha de pedir a uma pessoa de 1,60m e incomparavelmente mais leve para vir matar "aquela merda que anda para ali a voar na parede, mesmo perto de mim", enquanto se afasta do local, sempre de olhar desconfiado e pronto para fugir a sete pés. Não vai ser fácil...


Penso que nunca é de mais referir que este planeta é habitado por muitos mais milhões de bichos nefastos para a nossa saúde e com potencial para nos eliminar do que os restantes bichos. E quais são os bichos nefastos? Basicamente, todos os seres vivos (e alguns seres inanimados que parecem seres vivos e às vezes me assustam) menos os cães. E um ou dois gatos. 
Desta forma, penso que seria bom termos todos a ideia de que se um dia eles se lembram de juntar forças e eliminar-nos da face da Terra, estamos absolutamente f....eitos ao bife. Por isso, respeito pelas aranhas, melgas, mosquitos, sapos, preguiças, polvos, lulas, caranguejos, alforrecas, tubarões, serpentes e por aí fora. 


Fazem ideia de quantos tipos de insectos, aracnídeos e anelídeos existe por esse Mundo fora com potencial para, com uma pequenina picada, colocar um elefante adulto KO em segundos? Sabem quantos potenciais perigos nos espreitam de cada vez que decidimos entrar mar adentro? Já pensaram no que se pode esconder na areia ou por entre as rochas só à esperinha de ver um pé a pousar ali perto? Sabiam, por exemplo, que há medusas (esse animal do demónio), cujos tentáculos podem atingir quilómetros de comprimento? E que as espécies de medusa (ou água-viva) mais pequenas e transparentes são das mais letais do Mundo? Ou que, por exemplo, os hipopótamos estão na lista dos animais mais letais? Que os mosquitos podem transportar um número incontável de diferentes doenças potencialmente letais para qualquer ser humano? 


Provavelmente não sabem, ou então conseguiram escapar aos inúmeros programas sobre a Natureza que falam sobre isto e que, de forma quase irónica eu apanho quase sempre na TV - que talvez ajude a explicar esta minha "tara". 

Mas permitam-me esclarecer aqui a veracidade de algumas teorias.
Quem foi que vos disse que "os animais têm mais medo de nós do que o contrário"? Perguntaram a alguma serpente se ataca humanos só por desporto ou porque realmente somos um alvo apetecível? Distribuíram um questionário na selva amazónica para saber quantos daqueles demónios venenosos e sombrios têm muito medo dos homens? Perguntaram ao raio das medusas do Índico porque diabos hão de ter tentáculos com tantos quilómetros de comprimento? 

Ainda por cima, somos dos poucos animais - senão o único -  que, para nos defendermos de grande parte dos outros animais, ou levamos uma carabina, ou então mais vale fugirmos o mais rápido que o nosso corpo e as leis da Física nos permitirem, porque não é ao murro ou à dentada que vamos lá... Malta, até o peixe balão tem uma mecanismo de defesa mais eficaz. Se vos disser que esse mecanismo consiste em auto-insuflar-se, está tudo dito quanto ao baile que a Natureza nos dá neste aspecto.


E aquela história de "Ah, esses animais só existem em sítio tal, não há disso aqui", também me enfurece! Quem nos diz que os gajos não aproveitam para apanhar barcos ou aviões para espalhar terror por outras latitudes? Quem pode concluir que eles não gostam de experimentar diferentes climas e engatar gajas e gajos de diferentes espécies? Quem nos diz que as medusas do Oceano Índico não decidem fazer uma viagem para Norte -  porque nunca viram neve e têm curiosidade -  e no caminho passam pela nossa costa e atacam uns quantos inocentes? Quem garante que um dia não nos salta uma serpente venenosa da sanita na altura exacta em que nos decidimos nela sentar?


Eu já quase arranquei cabelos só porque uma borboleta da noite me tentou assassinar, voando com toda a sua força contra a minha cabeça, enquanto estava deitado no sofá. Com a adrenalina de não saber o que tinha no cabelo (mas sempre acreditando de que se tratava dum ataque premeditado), atirei-a contra a TV e deixei-a KO. Mas não a fui apanhar, que a gaja podia perfeitamente estar a fingir e só à espera que sobre ela me debruçasse para me desferir um golpe fatal. 

Já fiquei meia hora dentro do carro, na garagem, depois de ter visto que um roedor (com o tamanho dum cão de médio porte) tinha aproveitado para entrar comigo ao mesmo tempo. Ora, um roedor, como o nome indica, rói. A ideia que tenho sempre é que aqueles malandros vão querer subir-nos pelas pernas acima e roer o que aparecer à frente. Ora, tendo em conta que prezo muito as minhas pernas e tudo o que mais acima se encontra, decidi dar-lhe tempo para se distrair com outras coisas para não me vir incomodar.

Se vejo aranhas na parede, afasto-me cuidadosamente do local e peço à minha imperturbável e corajosa J que venha dar-lhe uma sapatada, mas que não o faça à frente da família do bicho, para não haver represálias. 


Se entro na água, procuro que o meu corpo esteja totalmente submerso, mas nunca por nunca toco no solo, seja ele arenoso ou rochoso. E procuro nunca prolongar em demasia a minha estadia sub-aquática. Nada me garante que não haja um peixe-aranha pronto a espetar o seu "ferrão" num pé, ou que não surja um qualquer caranguejo, ou peixe, ou polvo, ou lula, ou raia, ou tubarão que deu à costa porque ontem apanhou uma grande bebedeira e perdeu o sistema de navegação (ou lá o raio que aqueles sacanas têm). E se ele vier com fome, podem ter a certeza que quando vir as nossas pernas, não vai ser medo que vai sentir. Vai ser apetite!


Obviamente sou vítima dum bullying persistente e mordaz por parte de toda a população humana dita "normal" que não possui qualquer tipo de problema com 90% dos bichos. Sou um alvo fácil de piadinhas e piadolas por parte de família e amigos. Mas convivo bem com isso. Tenho a certeza de que o bunker que preparei para me esconder quando os tais "bichos" decidirem recuperar à força este planeta que, só por acaso, é deles por direito, me vai dar um jeitão. E aí, ainda me vou rir muito!



P.S.: Sou exagerado... Isto é uma doença terrível! Já imaginaram um indivíduo do meu porte a saltar em cima do sofá porque anda qualquer tipo de centopeia a "centopear" pelo chão de casa? Ou a não entrar no mar só porque "ontem um gajo entrou e saiu de forma anormalmente rápida, parecendo mesmo que estava a fugir duma potencial medusa"? Que credibilidade me resta? 






sábado, 30 de agosto de 2014

A distância que nos mudou... para sempre! (Parte II)

Tinham-se passado 7 meses desde a última vez que tínhamos estado juntos. A distância estava a destruir a pouco e pouco a relação que tínhamos criado. Horários desencontrados, chamadas cortadas, nada de soluções à vista.... A nossa paciência estava perigosamente à beira do abismo e nós não estávamos muito longe.

O oportunidade de reencontro deu-se numa deslocação profissional. Podem pensar que seria o momento perfeito para matarmos as saudades, mas a nossa mente transbordava de receio de ouvirmos palavras amarguradas da boca do outro e decidimos não o fazer.
Eu decidi não o fazer!
O receio que tinha de olhar-lhe e sentir que tudo estava acabado, que a distância tinha levado a melhor e que este era o fim, era tão grande que acobardei-me e fugi com o rabinho entre as pernas. Escolhi o caminho mais fácil e decidi que não nos iríamos encontrar. Ele, por outro lado, não deixou fugir a oportunidade. Persistiu e veio ao meu encontro. 

Era um fim de tarde de Maio. O meu coração estava aos saltos e os nervos à flor da pele. Só senti algo semelhante uma outra vez em toda a minha vida: quando vi pela primeira vez a minha sobrinha mais velha! Contudo, desta feita, os nervos e palpitações tinham uma conotação negativa, quase antecipando o rebentar de uma bomba sobre uma cidade em guerra eminente.
Apercebi-me de que aquele seria um momento determinante no nosso percurso romântico. Tratava-se de uma decisão puramente subjetiva, emocional, baseada na adversidade que se desenrolava nas nossas vidas. Em causa estava a capacidade (e prova!) de cada um suportar a distância e acreditar que poderíamos ser superiores às maiores dificuldades que a vida nos pode colocar. Quase um teste para demonstrar como não só nos tempos de emigração dos nossos avós, em que o valor de família e amor justificava a necessidade de passar fronteiras em busca de algo melhor, também nós seríamos capazes de o fazer nos dias de hoje.

A tensão era tremenda. E o receio ainda maior!

Consigo recordar exactamente o que senti ao vê-lo e a expressão que ele esboçou quando me viu.
Ele saiu do comboio e eu fiquei à espera de encontrar os seus olhos. Tinha fé de que o olhar dele diria tudo o que não queríamos proferir e que tudo ficaria resolvido; fé de que não seriam necessárias palavras amarguradas, lágrimas ou despedidas. Mas o olhar dele nada me disse. Nada!
Apesar da expressão séria e compenetrada, o Z não me desvendou nada do que sentia em relação a tudo o que estávamos a passar.
Se estava nervosa antes, então aí é que a coisa ficou pior.

Decidimos ir jantar com calma e enfrentar o touro pelos cornos, como se diz.
Foi estranho estar em frente a ele, cheirar o seu perfume e não haver quase contacto, nem empatia. O cansaço de lutar por algo tão estanque e inalcançável como a distância era visível nos nossos rostos, na nossa postura e na nossa vontade. Estávamos cansados, derrotados e pouco crentes numa resolução para o que se passava.
A conversa que se seguiu não foi fácil e foram ditas as verdades que não se queriam ouvir, mas as nossas almas mereciam algum descanso e desaforo perante tremenda odisseia. Abordou-se a questão da incompatibilidade de horário, dos desencontros telefónicos, até o ódio pessoal do telemóvel. Mas o inevitável era saber como seria a nossa vida daquele momento em diante.
Na verdade, estávamos em pólos opostos neste ponto. O que um achava melhor ia contra o que o outro defendia. Alguém tinha que ceder. Mas quem? Tínhamos emprego nas nossas terras, estávamos perto das respectivas famílias e amigos e o futuro parecia prometedor para cada um no local em que se encontrava. E então? Como se resolvia este quebra-cabeças?

A resposta, caros amigos, não vos é difícil, uma vez que o nosso cantinho da blogosfera desvenda o final desta encrenca (se me permitem o termo). Mas posso confidenciar-vos que foi muito difícil chegar a um consenso e foi mais difícil ainda ceder em medidas iguais. A amargura acumulada nos meses de distância estava a toldar a nossa capacidade de raciocinar de forma altruísta (ou mesmo egoísta, enquanto casal) e as respostas dadas eram frias e secas. Quem nos visse, poderia pensar que éramos inimigos forçados a dialogar para resolver questões insolucionáveis.
A solução não foi ditada nesse dia. Nem tão pouco nos dias que se seguiram. Com o tempo, chegámos ao acordo de que o Porto seria o melhor lugar para chamar de casa e que seria eu a adaptar-me aos modos do Norte, com as esporádicas viagens à terra para matar saudades da família e recuperar a energia.

Podem perguntar-se se fui eu que cedi! Não, não fui. Ambos cedemos. Como em qualquer decisão importante na nossa vida, não há certo, nem errado. Avaliámos as condições de cada um, pesámos as hipóteses e escolhemos aquilo que, para nós, parecia o menos prejudicial na altura. Se fosse hoje, provavelmente teríamos decidido algo diferente... ou não! Nada é certo.
Apenas nos resta perguntar: a decisão tomada deixou-nos felizes? Eu respondo que sim. Apesar das saudades tremendas da minha família e amigos, sinto que tomei a decisão certa para a altura e escolhi o melhor caminho para mim. Escolhi a minha paixão pelo Z e o nosso amor provou ser de pedra e cal. Uma prova ultrapassada com sucesso. Atribulada, sem dúvida, mas com sucesso!

Mas digo-vos com toda a sinceridade:
Não me arrependo de nada do que fiz, mas não conseguiria passar por tudo novamente.


P.S.: Nada é fácil na nossa vida. Quando pensamos que somos afortunados e que tudo corre bem, a vida prega-nos partidas e, por vezes, essas partidas revelam-se muito difíceis de resolver. Aprendi com a minha querida Avó Amélia que o amor vale sempre a pena e que pode durar toda uma vida. Foi por acreditar nisso que consegui aguentar e ultrapassar tudo.

Dedico-lhe esta história. Espero que a deixe orgulhosa.

Amo-te Amelita. Descansa em Paz.

sábado, 9 de agosto de 2014

A distância que nos mudou... para sempre! (Parte I)

As histórias que temos partilhado são hinos (pessoais) ao amor, à confiança e ao respeito. Através das nossas aventuras, temos transmitido o melhor do mundo a dois, vivido por duas pessoas diferentes mas semelhantes.
Mas seria hipocrisia da nossa parte esconder que existem maus momentos. Situações difíceis e, por vezes, desgastantes. Nós não somos diferentes, portanto também vivemos episódios menos coloridos.

A história que passo a contar foi um desses momentos: podia unir-nos de forma sólida ou podia representar o fim de uma relação.

No dia 10 de Outubro de 2010, eu regressei aos Açores depois da conclusão do meu curso superior. O objetivo era trabalhar e não haviam propostas que me permitissem ficar pela Invicta. O meu coração estava derrotado, destruído e magoado. Em prol do meu sucesso profissional, estava a deixar o meu amor, a minha cara-metade para trás.
A decisão tinha sido pensada vezes sem conta e a parte racional sobrepunha-se ao coração.
Contudo, com a minha partida, não havia garantia ou data certa de regresso. Nem havia mesmo possibilidade do Z ir trabalhar para a ilha comigo por falta de propostas. Era tudo uma incógnita.
Embora fosse uma preocupação para ambos, os dias que antecederam a minha partida foram intensos, porque não se falou d' "o assunto"! Era demasiado doloroso.

Aquela despedida no aeroporto foi das coisas mais difíceis que tive de fazer. Não há sensação pior do que olhar através do vidro de embarque e ver a pessoa que nos preenche do outro lado, a chorar, sem que isso seja razão suficiente para ficarmos. Até hoje convenço-me que "tinha que ser assim...". 
As horas de espera na sala de embarque e de viagem foram penosas, assombradas pela vontade crescente de voltar para trás e arranjar uma maneira de ficarmos juntos. Pensei e repensei todas as decisões que tinham levado àquele momento e consegui argumentar milhões de motivos para ficar. Mas não fiquei.

Fui racional e não emocional. Até hoje arrependo-me de ter sido assim.

Cheguei ao Pico, inundei-me de amor dos pais e comecei a trabalhar. Pensei que isso impediria a minha mente de divagar para pensamentos escuros. "Será que fiz bem?", "haveria outra alternativa que não contemplei?", "será que eu e o Z vamos suportar isto?"... A verdade é que não sabia e essa incerteza estava a corroer-me por dentro. Mais e mais a cada dia que passava.

O tempo em nada suavizou a dor de estar longe dele. Podíamos falar 3 a 4 vezes por dia, até "skypar" todas as noites, mas não era suficiente. Faltava o toque, o cheiro, o som puro da gargalhada, o calor humano. Por mais forte que seja o amor entre duas pessoas, a distância é macabra e consegue enraizar medos e incertezas que abalam os pilares mais fortes de uma relação. Não tardou muito para que isso acontecesse connosco.

Ele começou a trabalhar e passou a estar mais ocupado. A diferença horária, ainda que mínima, dificultava a nossa comunicação durante o dia, porque o almoço não coincidia. Até a hora de saída do meu emprego chocava com a entrada do treino para ele. As semanas eram campos de batalha para saber um do outro.
Lembro-me perfeitamente de começar a odiar o telemóvel: não me podia separar dele e ele nem sempre servia a sua função: precisava de falar com o meu amor e as tecnologias de nada serviam para atenuar a distância.
Os fins-de-semana não eram melhores. O Z tinha jogos aos sábados e as noites dele eram passadas com amigos e jantaradas para esquecer a dor da distância. Os meus dias de folga eram passados a trabalhar com amigos para juntar mais uns trocos, a fim de pagar a passagem para o Porto. Se eu ligava, mal conseguia ouvir a sua voz. Se ele ligava, eu nem sempre tinha tempo para falar.

A distância estava a conseguir vencer o duelo com o amor.  

Com o passar das semanas, tornou-se cada vez mais difícil falar e a nossa paciência estava a esgotar-se a um ritmo alarmante. As discussões começaram a tornar-se constantes e as dúvidas sobre a verdadeira força da nossa relação estavam presentes em cada suspiro.
Para vos ser sincera, ainda choro quando penso nisso, porque foi dos maiores e mais difíceis desafios que tive de ultrapassar. Tudo o que eu queria estava em pontos geograficamente diferentes e era humanamente impossível conciliar tudo. Mas eu tentei! E tentei com todas as forças, todas as lágrimas, todas as preces que consegui.

Até que um dia senti que estava a lutar sozinha por nós! Ele parecia cada vez mais distante, mais frio e menos apaixonado. Não conseguia falar com ele sem que ele me parecesse frustrado, zangado e desinteressado; tudo menos apaixonado e confiante de que as coisas iriam melhorar.
Essa dor foi fulminante! Como se tivessem trespassado o meu coração com uma lança em brasa.
Estar longe é muito difícil, mas sentir que a outra pessoa pode estar a deixar de amar-nos é avassaladora!!

Foi em Maio de 2011 que, por motivos de trabalho, tive que deslocar-me a Lisboa e aconteceu o nosso encontro após 7 meses.
Seria de esperar uma corrida para os braços um do outro, uma avalanche de beijos apaixonados e um abraço interminável para suprir tudo que tinha sido adiado desde outubro. Mas não!
Esse encontro foi aquele momento em que tudo se decidiu. Em que tudo mudou de rumo.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

God Save My Queen

Nota Prévia: a publicação de hoje é lamechas! Muuuuuito lamechas!

Não sei quanto a muitos de vós, caríssimos leitores, mas tenho por hábito sonhar acordado com várias coisas. A mente é o nosso derradeiro grito de liberdade; brilhante e obscura ao mesmo tempo, não tem limites, nem fronteiras. Somos nós a decidir o que queremos, quando e como queremos, sem dar satisfações a nada nem ninguém. Se neste momento, o Dr. Emmet Brown (para quem não sabe, o cientista louco da trilogia "Regresso ao Futuro"), com o seu despenteado cabelo branco e ar de louco bonacheirão me viesse desafiar para uma viagem ao passado, a minha resposta não ia demorar a sair. 

Queria estar aqui:


Pois é meu caros, queria regressar ao dia 12 de Julho de 1986 (uns mesitos antes de nascer), dia em que "A Banda" deu um dos concertos mais memoráveis da História, no mítico estádio do Wembley. Haveria milhares de datas que poderia escolher, bem sei. Mas esta seria a minha escolha imediata, e defendo-a com unhas e dentes!
Sabendo desde já que vou ferir susceptibilidades, vou dizê-lo: os britânicos Queen foram "A Banda". Não foram a "melhor" banda de sempre; não foram a mais carismática de sempre; não foram a que mais discos vendeu; não foram os mais ousados de sempre. Não foram os mais polémicos de sempre! Foram, simplesmente, "A Banda". E como admirador supremo destes génios da música, eu queria estar ali, em Londres, sufocado no meio daquelas 100 mil almas. 

Ora, faz agora uns dias, a minha querida J decidiu personificar o louco Dr. Emmet Brown e presenteou-me com uma viagem no tempo. Fomos ver os God Save The Queen, banda de tributo aos originais Queen
Não sei se já tinham ouvido falar nestes senhores, mas aquilo que vivemos naquela noite de Julho de 2014 foi demasiado perfeito para ser verdade. Os senhores não se limitam a tocar Queen. Eles SÃO Queen. Visualmente, Pablo Padín (vocalista) podia ser gémeo de Freddie Mercury. As roupas são iguais, os trejeitos, a expressão facial. É tudo assustadoramente igual! E acreditem, eu conheço algumas das performances ao vivo dos Queen da frente para trás...

Senti-me transportado no tempo naquele par de horas. Por momentos estive no Wembley, no meio do oceano de gente, a assistir à História a ser escrita em tons de Rock. Braços no ar na "Radio Ga-Ga", histeria nas primeiras notas do baixo de Deacon em "Under Pressure", montanha-russa de acordes e tons na "Bohemian Rhapsody", berros de euforia na "I Want It All" e lágrimas, lágrimas de emoção em "Who Wants to live Forever" (uma das músicas que ainda me consegue arrepiar SEMPRE que a ouço).

"Estás a gostar?", perguntava a J, de vez em quando, estranhando a minha postura reservada. E as palavras teimosamente presas na garganta, envergonhadas, preferiam ficar para trás: nada do que significassem poderia sequer estar perto de exprimir o que cada poro do meu corpo sentia. 

Mais para o final, um sempre cristalino "Love Of My Life". Simples mas majestoso!
E logo ali a sensação de me ter apaixonado de novo. Pelo Freddie, em simbiose eterna com a multidão, a sentir cada palavra da música. Pelo Brian, a dedilhar com a maior naturalidade os intrincados acordes naquela guitarra. Pelo momento. Mas, sobretudo, apaixonei-me de novo pela J. Era aquilo! Era mesmo aquilo!
Era de tal forma aquilo que fiquei totalmente paralisado! Os meus olhos e ouvidos devoravam cada instante, e a música fluía em mim como se eu próprio fosse parte das partituras. Não existia público, não existia tempo. Apenas comunhão! 

E Amor...

Quando dizem que o Amor (e a Paixão), está em pequenas coisas, temos o hábito de pensar que tudo não passa de cliché. Se calhar, oferecer um pequeno almoço na Lua, ou um passeio vespertino por uma Paris coberta de neve, será visual e logisticamente mais forte. Mas na verdade, o Amor pode estar milhares de milhões de vezes mais presente naquele beijo que damos à(ao) nossa(o) amada(o) quando saímos de casa para o trabalho. Ou quando conhecemos de tal forma o outro que conseguimos proporcionar momentos como os que vivi, com algo tão simples como uma ida a um concerto. E nesses pequenos bocadinhos, apaixonamo-nos uma, outra e outra vez.

Naquele dia, apaixonei-me 1, 100, 1000000 de vezes pela J. 

Obrigado J! Muito, muito, muito Obrigado!

P.S.: claro que a fasquia ficou agora elevadíssima. Lá vou eu ter de fazer aparecer o Pitt e o Clooney para um "café" e "dois dedos de conversa" com a J um dia destes, enquanto eu vou "sair com uns amigos". 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

"Churrascada" a quanto obrigas!

Uma vez que adoptei a cidade do Porto - berço do Z - como minha casa, só seria justo que o Z conhecesse as minhas origens para consolidar a relação: a minha família, os meus amigos, o local onde cresci e todos os meus esconderijos enquanto menina e moça. Essa viagem concretizou-se no verão seguinte ao início do nosso namoro.

O Z estava ansioso e nervoso com a descoberta, mas eu estava muito mais. Quando uma relação assume patamares mais elevados de seriedade, a aprovação de família e amigos torna-se uma questão importante. A minha mente estava assoberbada de receios e questões que só o inevitável encontro poderia responder. Era aquele o momento da verdade e não havia mais como contorná-lo.

Ao chegar a casa dos meus pais, fomos presenteados com uma verdadeira merenda açoriana (Sopas do Espírito Santo - que, para quem não sabe, debate-se em ringue com as sopas de cavalo cansado) e vinho à mercê. A conversa desenrolou-se com naturalidade e os meus pais aceitaram o Z quase de imediato. Foram reveladas as velhas histórias de infância que os pais sentem SEMPRE necessidade de partilhar, mesmo que nos embaracem em qualquer momento, mas este primeiro tête-à-tête revelou-se calmo e descontraído e uma boa preparação para o que viria a seguir.

O segundo encontro revelar-se-ia o mais marcante na visita de Z à ilha.

Sempre que o verão dá os seus sinais, os meus amigos próximos sabem que está na altura de preparar a velha "churrascada na adega". Todo este ritual ganha novos contornos quando um novo elemento se junta ao bando, principalmente por motivos do foro amoroso.
A chegada do Z ao grupo não foi excepção e os preparativos foram todos colocados em marcha.
A chegada ao "local do crime" deu-se ao início da tarde, naquele que seria um serão para durar enquanto a nossa stamina nos permitisse. Carne variada, acompanhamentos dignos e cerveja para regar o estômago. Todos os ingredientes para um dia bem passado.
Após as necessárias apresentações, pouco demorou até que o Z se sentisse em casa e começasse a falar com o pessoal como se os conhecesse de tempos passados. A tarde correu sem percalços e isso fez com que Z perdesse todo o receio que, tanto ele como eu, sentíamos pelo derradeiro encontro.
Já a lua dominava o céu estrelado quando surge a proposta de um jogo para animar o grupo. Após um debate curto e ameno, todos concordaram que se jogaria aquele que se chama "o jogo do riso", consistindo numa simples embora cómica formação em círculo em que cada elemento, em vez alternada mas sequencial, tocaria no rosto de outros elementos tentando "arrancar" uma gargalhada para eliminar adversários. As regras eram simples: quem desse uma gargalhada, seria automaticamente excluído.
O Z entrou no jogo e assumiu o papel de adversário competitivo, determinado a provar que não se deixaria levar por qualquer toque.
Eu saí quase no início do jogo. Numa jogada de mestre, um dos meus amigos conseguiu pintar um belo risco negro pela testa do Z e ele ficou irreconhecível. Tinha desenvolvido uma "monocelha" sem dar-se conta. O facto do Z ter-se mantido sério, por respeito às regras, sem a mais pequena ideia do Picasso que se pincelava no seu rosto, deu mais ênfase à piada.

(Quase que aposto que, neste momento, pragas estão a ser rogadas à minha pessoa por ter permitido que isso acontecesse. Meninos e meninas, senhores e senhoras, se vos dá algum conforto, eu também passei pelo mesmo o que, em linguagem de mulher, é terrível - borbulhas, pele oleosa.... enfim, uma série de dramas na nossa imagem!)

O jogo demorou algum tempo, o suficiente para que pouco sobrasse da cor natural de pele, e o Z manteve-se no círculo cada vez mais curto, sem ceder às gargalhadas, nem aos apertões de nariz de que era sujeito. Foi uma revelação! E ele estava compenetrado!

Quando o grupo estava reduzido apenas a 3 pessoas, a "luta" final revelou-se entusiasmante e o Z acabou por ser o derradeiro vencedor.
Ele estava confiante e, de certa forma, orgulhoso.

O choque não tardou a chegar...

Com tanto toque (recebido e dado), o Z sentiu necessidade de ir à casa de banho para lavar as mãos. Pelo caminho, confidenciou-me que o jogo nem era complicado e que tinha sido engraçado vencer na sua primeira vez. Não consegui proferir nem uma palavra nessa curta "viagem".
Ao chegar ao WC, encarou-se ao espelho e finalmente pôde verificar o porquê do círculo ter diminuindo de forma considerável a cada gargalhada. Os dois cúmplices colocados estrategicamente ao seu lado no círculo tinham pincelado a sua face de negro a cada toque.  O Z estava verdadeiramente irreconhecível!
Soltaram-se gargalhadas estridentes, tiraram-se fotos "para mais tarde recordar" e o pessoal foi todo ao seu encontro dar-lhe os parabéns pelo cumprimento do ritual de iniciação. Era um momento especial (embora embaraçoso, confesso) e o Z era o special one.
Desde então, o Z foi tratado como um  dos nossos e não como uma visita e a churrascada continuou até às primeiras horas da madrugada.

Agora posso confidenciar-vos que ele não achou piada nenhuma quando se viu ao espelho. Mas também vos digo: foi uma imagem linda de se ver!

Depois destes encontros, levei-o aos meus locais secretos, às minhas recordações de infância e mostrei a ilha aos meus olhos. Arrisco a dizer que dei origem a um picaroto (ainda que não seja picoense) que será sempre bem recebido.
A minha mente acalmou, as dúvidas desapareceram e planeámos um regresso.

Agora, jogar o "jogo do riso": nunca mais! Ah ah ah


Beijinhos,
J

terça-feira, 3 de junho de 2014

De Faca e Alguidar (sem o Alguidar)

Quando eu e a J decidimos "juntar os trapinhos", ainda que de forma não oficial aos olhos de Deus, escolhemos uma casa porreira, espaçosa, bem localizada, barata e - mais importante - equipada e mobilada. Sendo assim, e graças a muita da nossa família e amigos, que nos "rechearam" a casa de mimos (e que belos mimos), poucas foram as coisas com que nos tivemos de preocupar para preencher as necessidades. 

Na cozinha, talheres era coisa que não faltava, mas qualquer cozinheiro que se preze (neste capítulo incluirei ambos) necessita de um bom conjunto de facas, para que a cebola fique bem partidinha em cubos, que o tomate se corte sem esborrachar, etc, etc... Fomos então a uma conhecida loja sueca (como qualquer casal com sentido prático e mealheiro reduzido), e trouxemos de lá um belo conjunto de facas, faquinhas e fac... grandes facas - antes que isto descambe - que fizeram (e continuam a fazer), as nossas delícias.


O que vou contar a seguir, relaciona-se com tais artefactos.

A minha versão

Um belo dia de semana, estávamos nós de férias e acabadinhos de nos juntar, aqui o Z presenteou a população que habita o andar X da zona Y do distrito Z (nós os 2), com um repasto que, se fosse a concurso no Master Chef Australia, facilmente chegaria para ganhar imunidade. Após tal sublime banquete, sentei-me no sofá, atento às notícias do almoço, e a J quis ir lavar a loiça (insistiu de tal forma, que acabei por ceder). De súbito, chega da cozinha um "AAAAIII" que me deixou em sobressalto. Saltei do sofá como uma mola, pronto a clarificar o que se passava com a minha amada. Deparei-me com uma bela donzela, com um pano envolto no dedo indicador da mão direita, esgar de dor, meia empalidecida e decerto perturbada. Não precisava de perguntar o que se tinha passado; era claro que, no processo de lavagem da loiça, o dedo tinha sido golpeado. O artefacto do crime jazia na banca, ainda ensanguentado; era a maior faca do sublime conjunto que havíamos comprado na tal conhecida loja. Pedi à J que retirasse o pano do dedo e pude constatar que o golpe era profundo... De imediato pressionei a base do indicador, para ajudar a que a hemorragia estancasse (hemorrAgia, não é hemorrEgia), e enchi um copo com água, para a J poder recompor-se. Ajudei-a a sentar-se e fiz-lhe ver que o melhor seria irmos às Urgências, porque aquilo provavelmente precisaria de pontos. A J recusou... Como estávamos juntos há pouco, ainda não possuíamos mala de primeiros socorros e então fui a correr (o mais que pude), à farmácia mais próxima, para que me dessem o material necessário para tratar daquele dedo. Voltei para casa a correr, inebriado do espírito de "Super-Herói" e mal cheguei a casa, lavei aquele corte e fiz o melhor penso que pude com o material que me haviam fornecido. A J agradeceu e abraçámo-nos emocionadamente, cientes de que o que eu tinha feito foi heróico e memorável.

O que realmente aconteceu

Um belo dia de semana, estávamos nós de férias e acabadinhos de nos juntar, e aqui o Z fez massa com carne picada pela enésima vez naquela semana. No final do almoço, sentei-me no sofá e distraí-me com a televisão (uma série qualquer de merda), esquecendo a promessa que tinha feito de lavar a loiça no final. A J avançou pela cozinha (a gemer qualquer coisa entre-dentes que não abonava em meu favor) e iniciou o processo de lavagem da loiça. De repente ouve-se um som que tenho dificuldade em descrever. Foi um "AAAIII" em degradé sonoro, como se tivesse sido muito convicto no primeiro "A" e fosse passando de convicção para aflição no decorrer da palavra. De imediato me senti sem pinta de sangue. "A J. Na cozinha. Aflição...", tudo palavras que, quando juntas, não combinam bem com a minha pessoa. 
Sem me levantar do sofá (todas as minhas sinapses paralisaram), perguntei a medo "Que foi?". "Cortei-me...", atirou a J num tom apagado, circundado de vários "Ais" mais fracos, indicadores de problema potencialmente grave. Há poucas coisas que me causam pânico. Minto, há variadas coisas que me causam pânico (o que não deixa de ser curioso num ser humano com a minha altura e envergadura), mas lâminas a penetrar a pele é algo que, só de imaginar, me deixa muito próximo de perder os sentidos. Reuni a (pouca) força que tinha e cambaleei até à cozinha. Ainda hoje penso que a J não tem a certeza de ter visto um fantasma ou um ser humano à porta, tamanha a transparência do meu tom de pele. Agradeci a todos os santinhos que houvesse um pano em torno do membro afectado e a J teve o bom senso de manter a lesão longe do meu olhar. Ainda assim, vi-me perante um dilema: ou tinha uma crise de ansiedade, o que não é muito proveitoso para o coração, ou perdia os sentidos, e deixava a minha dama ferida com uma situação difícil para resolver sem o auxílio de uma grua. Como eu bloqueei na ombreira da porta, perdido nestes profundos pensamentos, a pessoa ferida teve de dizer à pessoa quase desmaiada "Não temos estojo de primeiros socorros. Podes ir até à Farmácia?". Qualquer ser humano consciencioso teria dito que devíamos era ir ao hospital mas aproveitei a oportunidade para apanhar algum ar puro e tentar recuperar as cores normais (pelo menos na zona da face). Com extrema dificuldade, cheguei à farmácia, ainda arfando da corrida que dei, sem a oxigenação necessária para tal esforço. Pedi à farmacêutica variados materiais de primeiros socorros, explicando que tinha havido um acidente com lâminas em casa (consegui dizê-lo sem pestanejar). A senhora perguntou-me se eu não necessitava de nada para a palidez, com cara de gozo, (ah ah, very funny...) e lá me arrastei até casa, para resolvermos a situação. Quando cheguei, ainda me mostrei corajoso e pedi-lhe que me mostrasse como estava, para avaliar a gravidade da situação. Quando vi que o golpe ia desde a polpa até meio do dedo, estendi a saca plástica onde trazia o estojo de primeiros socorros à J e confessei não conseguir ajudá-la sem fazê-la passar por enorme vergonhas. Regressei ao sofá e deitei-me, com as pernas bem elevadas e um copo de água com açúcar ao lado para o que desse e viesse.


Não acham que a J tem todas as razões do Mundo para se sentir bem protegida ao meu lado??

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Música...? Sim, por favor

Falar de nós os dois é falar de música. Somos amantes de variados géneros e a música é parte activa da nossa vivência. Aliás, no início da nossa história, a música desempenha um papel fundamental como factor de destino e união.


Mas comecemos pelo início...

Desde pequenina que tenho uma paixão pelo canto. Fechada na marquise de casa dos meus pais, passava horas infindáveis a tentar reproduzir as obras de artistas femininas que representavam o ideal de cantora para mim - Aretha Franklin, Celine Dion, Mariah Carey, Whitney Houston... enfim, uma série delas.
Com o passar do tempo, tive o privilégio de participar em bandas que animavam bailaricos carnavalescos e acabei por ter um projecto com um grupo de amigos que chegou a diferentes palcos nacionais. Não fui estrela famosa, mas pude experimentar a emoção de cantar para plateias de milhares de pessoas e conhecer artistas de renome nacional.
Ao entrar para a faculdade, não restavam dúvidas de que faria parte da tuna académica para manter esta paixão acesa. Pois bem, foi aqui que os astros começaram a alinhar-se para que eu e o Z cruzássemos o caminho um do outro.

Certo dia de Verão, no longínquo ano de 2007 (se não me falha a memória), a tuna foi convidada para ser anfitriã de um evento comemorativo dos 20 anos de Erasmus. O evento, realizado na mui nobre Casa da Música, consistia em apresentações multi-culturais por diferentes tunas, evocando os países que constituíam a rede de Erasmus a vigorar na Europa. A minha tuna ficara incumbida de representar o país que nos alberga e, nesse sentido, o cancioneiro remetia para músicas que marcaram a nossa história. Pessoalmente, era um dia importante porque seria a minha estreia a cantar o Fado Português, original de Amália Rodrigues e interpretado por Dulce Pontes, tarefa nada fácil de cumprir. 
Estava nervosa e sentia que este era um dia que não mais me esqueceria.
A festa estava a chegar ao fim e chegara o tão aguardado momento de cantar para uma sala cheia de pessoas de diferentes línguas, origens e passados. 

Meus queridos, se há palavra que possa descrever aproximadamente o que se passou nos 5 minutos seguintes, posso garantir que foi MAGIA. A sala ficou em silêncio, os corações bateram ao ritmo de cada acorde e o sentimento foi magnânimo. Nunca me senti tão feliz na minha vida.

Mas perguntam vocês: que tem isto que ver com a história da J e do Z?

Bem, o Z estava na plateia, acompanhado pela sua mãe, e embora não nos conhecêssemos então, ele prometeu a quem o estivesse a ouvir que casaria com "a rapariga que cantou o fado"!

Curioso, não?!...

Passado quase um ano, a música voltou a alinhar as estrelas para que nos encontrássemos e foi num ensaio de música, em casa de uma amiga em comum, que eu conheci o Z. Era o dia 18 de Maio de 2008.

Desde esse dia, nunca mais nos separámos.

Descobri que também ele era apaixonado por música. Aprendera a tocar guitarra e fazia serões familiares a tocar e cantar as músicas que mais gostava, tendo inclusive colaborado numa banda. Embora não pertencesse a nenhuma tuna ou grupo musical, a guitarra era a sua fiel companheira e, ainda hoje, está pronta para ser tocada.
Quando a noite não convida a sair ou a ver televisão, ele afina as cordas e eu vou buscar os gatafunhos com letras e lá nos aventuramos em mais um serão de jam session particular.
O tom seguro e rouco da sua voz aninha-se à suavidade do meu timbre e, juntos, criamos uma harmonia perfeita, acompanhada pela amargura e pelo ritmo da guitarra. O casamento ideal entre a música e a paixão.

Podem perguntar-se se temos uma música nossa, como é comum acontecer entre casais, mas a resposta não será a esperada. Considero que a minha aventura com o Z tem sido tão maravilhosa e inesperada, que seleccionar apenas uma música seria reduzir tudo isto a uma unidade demasiado pequena para medir o nosso amor. Por isso, poderia estar um dia inteiro a falar das músicas que nos identificam e que são a banda sonora da nossa relação. Como não gosto de maçar ninguém, vou poupar-vos desse testamento, mas garanto-vos uma coisa: se nos perguntassem se poderíamos viver sem música, diríamos logo que não! Música na nossa vida? Sim, por favor! E sempre!



quinta-feira, 15 de maio de 2014

"Tripeirização" da J

Nota prévia: o texto seguinte está bem regado de palavrões. Tentei disfarçá-los com asteriscos mas, não adianta muito...  De qualquer forma, considerem-se avisados!

Pertencer a um clã é algo que faz parte do nosso crescimento. Passamos do clã que nos é mais próximo (a família), para os clãs dos diferentes amigos que vamos fazendo ao longo da nossa vida (tantas vezes com laços iguais ou mais fortes do que a própria família). Podemos ser do clã que adora romances do Nicholas Sparks (eu não sou, e estão à vontade para me internar ou esbofetear se alguma vez me virem a folhear um livro dele), ou dos thrillers de espionagem de John Le Carré (se alguma vez lerem, levem bloco de notas para apontar o nome de todas as personagens). Mais novos, juntamo-nos aos clãs da música pesada, mas o nosso ouvido vai ficando mais exigente e acabamos por não conseguir resistir aos clássicos dos saudosos anos 70 e 80. Pertenceremos sempre a um clã desportivo (e nunca, mas nunca, mas nunca mudaremos) e vamos saltitando de clã político em clã político (consoante os tempos e... foda-se, sejamos honestos, as nossas necessidades). Depois temos os clãs geográficos, e individualizo: a J é do clã dos picarotos; eu sou do clã dos tripeiros.



Todos os que nos lêem se identificam com a sua "terra". De Norte a Sul, Litoral e Interior, Açores e Madeira, não há quem não sinta com orgulho as suas origens. Hoje vou falar-vos um pouco do que representa ser tripeiro.

Um tripeiro verdadeiro conhece a sua cidade de lés a lés. 
Carrega nos "b" com maior vontade e orgulho quando fala com alguém de fora.
Vai até à marginal de Gaia para poder olhar pela milésima ocasião para a Ribeira e admira com a mesma paixão da primeira vez cada pormenor de cada casa velhinha que se encavalita pela encosta acima.
Continua sem perceber como foi possível criar obras tão sublimes como as nossas pontes, as novas e as antigas, que de tão bem desenhadas, parecem extensões naturais de Porto e Gaia.

Não aceita que se diga "cão" quando toda a gente vê que está ali um "caounhe".
Não sabe o que é uma "sarjeta", quando é do conhecimento geral que no Porto há "boeiros".
"Caricas"? Pfff... Nas garrafas há "sameiras"!
Mergulha no bulício do Bolhão, banha-se no perfume do peixe fresco e das flores, sorri perante o atrevimento das peixeiras, e não sai sem levar alguma coisa para casa.

O cardápio de cervejas tem "Super Bock". O cardápio de bebidas semelhantes a cerveja tem "outras cervejas". Que, só por acaso, são uma m*rda. Desculpem...
Sente-se insultado se o tratam por Senhor e não por Menino. Sente-se ultrajado por ter sido tratado por Senhor e não "Sinhor". As meninas serão sempre Meninas (com um grande ênfase no "i"), sejam filhas, netas ou avós.

Se encontra um amigo de longa data na rua, não descansa enquanto não o "conbida" para ir lá a casa "comer até cair pó lado e mamar uns finos". E é fiel a esta promessa. 
Conduz como um assassino e é mais capaz de perdoar um insulto enviado pelo outro condutor do que uma buzinadela só porque o sinal virou para verde (moda nova que algum chico-esperto trouxe de "lá de baixo").
Brinda o condutor que buzinou, com um "Quié que queres oh filha da p*ta?!" enquanto olha indignado pelo retrovisor e encolhe os ombros com violência.

"Palavrões? Quéssa m*rda? Oooooh... Paaaash! (Pooois! dito em versão tripeira)."
Quando quer que parem de o incomodar diz "Ooooh bai-má loja".
Mesmo que não aprecie a "pomada", vai sentir um orgulho imenso em ver o Vinho do Porto a ser referido em filmes ou programas estrangeiros.

"Cabides" são locais atrás de portas (ou pregados em paredes) onde se pendura alguma peça de roupa. "Cruzetas" são os suportes que vemos dentro dos armários, para colocar fatos (por exemplo). Toda a gente sabe disto malta!
Come francesinha, ama francesinha, sabe que só no Porto há boas francesinhas e só não acompanha a francesinha com um fino se estiver a tomar antibiótico (e mesmo assim pensa duas vezes...).
Come tripas, rojões e redenho frito como quem come pão com manteiga.
Come na "Tasca da Badalhoca" e tem a maior honra em poder comer num sítio com tal nome. Continua sem compreender como há quem faça cara feia quando sabe que há uma "Tasca da Badalhoca" onde toda a gente gosta de comer. 
Até pode já ter provado caracóis e adorado o petisco, mas nunca o vai admitir.

Ontem, hoje e sempre vai estar convencido que "c*ralho" é efectivamente uma bengala verbal. E Deus sabe como nós amaaaamos usar bengalas verbais no dia a dia.

Até pode admitir que há outras cidades belíssimas em conversas com outros tripeiros, mas para "os de fora", o Porto... é a mais bela cidade do Mundo c*ralho!

Faltarão aqui diversas características, mas não vos queria cansar com tanta perfeição...
A J veio para o Porto em 2006 mas, como é óbvio, só em 2008 começou a descobrir o verdadeiro Porto e o verdadeiro significado de tripeiro. Obviamente porque foi nesse ano que me conheceu!
Adoro a J. Amo as origens da J. Fui poucas vezes ao Pico (com muita pena minha), mas sinto-me sempre em casa quando lá estou. Também aquele pedaço de paraíso está repleto de pessoas maravilhosas (começando pelo JM e pela F) que sabem receber como ninguém. Não quero nunca que a J perca essa identidade, porque foi assim que a conheci e que por ela me perdi de amores.
Mas quando no outro dia, enquanto a J conduzia - ia eu no lugar do pendura -, o indivíduo da frente fez uma enorme asneira e ainda protestou com a J, tendo ela soltado "Obelá, oh seu filho da p*ta, precisas que te ensine a conduzir, c*ralho??", seguido do gesticular e do encolher de ombros, confesso que uma lágrima de orgulho me rolou pela face. Pensei "Já está... Esta já é das nossas!".

J, considera-te "tripeirizada".

Beijinhos e abraços,





terça-feira, 13 de maio de 2014

Tarefas e Lençóis!

Podemos afirmar que a nossa independência tem início, na minha humilde opinião, quando nos é atribuído um espaço só "nosso", na casa dos nossos pais. Seja uma cama ou um quarto, passamos a ter a  responsabilidade de gerir um quarto e tudo o que nele está contido.
A principal vantagem que retirei desse passo foi a liberdade de dormir como bem me apetecia sem que ninguém me chateasse: podia dormir de pijama ou "peladinha", em posição fetal ou na diagonal, de pés na cabeceira até, mas ninguém me pedia explicações.

Quando tomámos o passo de viver juntos, eu e o Z mal sabíamos o que nos esperava. Sim, ouvimos os discursos de toda a gente sobre "ai, agora é que vão sentir as responsabilidades", mas precisámos de bater com a cabeça na parede para aprender. 
Para vos ser sincera, todas as questões de tratar de uma casa - pagar contas, instalar o operador de canais de TV e internet, pagar renda -, embora custem no bolso, foram relativamente fáceis de cumprir. Mesmo que nos tenha escapado algum serviço no início, a necessidade encarregou-se de nos avisar para a sua pertinência e nunca nos faltou nada até agora. 

Um verdadeiro desafio para mim foi estabelecer rotinas e cumprimento de tarefas entre ambos!

Uma coisa é lavar roupa ou loiça de uma pessoa, outra completamente diferente é lavar loiça ou roupa de dois, com emprego à mistura, cansaço que acumula e com horários que parecem intermináveis. 
Aqui reside a essência das dificuldades de viver com outra pessoa: dividir tarefas! Se olharmos para esta questão do ponto de vista matemático, poderia falar-se de uma fórmula ou equação que soma o total de tarefas vezes o grau de dificuldade a dividir pelos intervenientes e o respectivo grau de cansaço ou  horário de trabalho; da perspectiva histórica, poder-se-ia dizer que a luta pela igualdade dos sexos determina que ambos devem cumprir o mesmo número de tarefas ou, em alternativa, definir um sistema rotativo que permita que cada um cumpra determinada tarefa em diferentes alturas; numa análise prática, o sistema de cada-um-trata-das-suas-coisas pode ser instituído, mas apela à vida estudantil e não ao casal. Pois bem, então como se faz? Alguém me explica?! 
Eu identifico três períodos distintos naquilo que posso designar como o Ciclo das Tarefas na Casa de Z e J: um primeiro momento em que são debatidas as tarefas e a forma de distribuição (é sempre um período calmo e engraçado, cheio de altruísmo e espírito de entre-ajuda); um segundo período, em que existe a efectiva realização de tarefas, com clara discordância com o acordo estabelecido inicialmente (caracterizado por alguma sensação de compreensão pela indisponibilidade do outro, embora jorrada por alguma irritação pelo incumprimento); e, por fim, a conclusão do ciclo em que as tarefas foram maioritariamente realizadas por apenas um dos elementos (com sentimentos melhor descritos pela antecipação de uma batalha naval!). Terminado o ciclo, eu expludo contra o Z e ele pede desculpa, dando início a um novo Ciclo de Tarefas. O que muda? Geralmente, pouco! Mas há sempre esperança.

Se analisar tudo isto de forma fria e ponderada, não estou muito longe do que acontecia em casa dos meus pais, em relação a meu irmão e à distribuição de tarefas. As condições são diferentes, claro, mas a essência da disputa é a mesma e, portanto, posso encarar isto como a exibição de uma peça com o mesmo argumento, mas com diferentes actores.

A única diferença é a minha cama!

Em casa dos meus pais, como referi no início, chegava ao final do dia e podia voltar para o meu ninho em segurança. Podia sentar-me na cama a ler um livro ou ouvir música, podia abrir os meus cofres de adolescente (com segredos importantes para a minha reputação escolar da altura), podia até optar por dormir por cima da roupa nas noites quentes de Verão. Agora.... bem, agora tenho que partilhar com o Z o meu ninho e isso tem revelado ser tarefa digna do Sylvester Stallone.

Aqui vai uma análise da pontuação no ringue:

Espaço ocupado na cama: 
Z - 1             J - 0

Puxar pelos lençóis:
Z - 0            J - 1

Capacidade de lidar com o frio:
Z - 1            J - -5

Pancadas inconscientes com alguma violência:
Z - 0            J - 3

Por outras palavras, somos tão diferentes no rancho dos lençóis como somos nas origens.
Ele é calorento e dorme com o mínimo de roupa de cama, ao invés de mim que preciso de 3 edredões para suportar o frio invernoso. Ele não suporta flanela e isso retira-me um dos maiores prazeres a nível de lençóis de cama. Eu necessito de espaço para mexer-me (e mexo-me bastante durante o sono) e isso representa algumas pancadas inesperadas enquanto o Z dorme. E, confesso, aproveito para puxar lençóis e edredões todos para o meu lado (em minha defesa, ele é calorento...). 
Toda a beleza de partilhar o ninho com o amado ganha uma nova perspectiva quando a realidade surge. Haverá solução? Talvez. Por enquanto, ficam as batalhas rockianas e mais uma história para contar.

Quanto ao futuro? Bem, só o próprio dirá como nos vamos adaptar, mas por enquanto fica a ideia de que a vida de casal (pelo menos, a minha) é uma batalha que, na sua essência, luta-se nos lençóis.

Beijinhos,

J

quarta-feira, 7 de maio de 2014

"Então, quando casam?"

Apesar de estarmos a viver o primeiro 1/5 do séc. XXI, viver com outra pessoa sem estar efectivamente casado nem estar a dar passos de gigante rumo à boda, ainda é algo que se vê com alguma desconfiança. A pressão inerente ao "grande passo" está aí, palpável, tensa, a espreitar a cada esquina, só à espera para apanhar na sua teia um casal inocente. 

"Z, que é isso de estares a diabolizar o casamento?", será concerteza a pergunta que percorre a mente de muitos de vós, queridíssimos leitores. Se fôr o caso, não poderia estar mais errada. O casamento é algo que respeito e admiro. Para além de uma demonstração única do nosso amor por outra pessoa, é uma óptima oportunidade para reunir todos os que nos são mais queridos e envolvê-los, de forma indelével (o uso deste adjectivo merece tanto comentários positivos no final do post...), na história da vida que procuramos construir com a pessoa que amamos. Também é uma oportunidade fantástica para recebermos prendas ultra valiosas e de recebermos milhões de beijinhos e beliscões nas bochechas por parte da faixa etária mais idosa de ambas as famílias. Significará ter os nossos amigos a cair de bêbedos nas mesas do fundo, enquanto contam histórias de fazer corar os mais extrovertidos. Será a oportunidade ideal para toda a gente constatar que não possuo, como a grande maioria dos seres vivos, o gene que conjuga bom gosto musical com capacidade para me mover harmoniosamente ao som de qualquer música (estou convencido que um orangotango com epilepsia parecerá o Michael Jackson perto de mim).


Para pessoas de fé, significará algo de muito mais completo e significativo mas, como profundo ateu, não me atrevo a seguir por esse caminho. E é essa a beleza do casamento: não é propriedade de ninguém; pode ter o significado que lhe quisermos dar (o que é bom, visto que somos nós quem toma a decisão de casar). Para mim, portanto (e para a J também, estou certo), o casamento tem um cariz mais festivo, do que propriamente um significado altamente profundo. 

Deixem-me explicar isto com calma, para não dar azo a protestos (e para que as prendas ultra valiosas não nos fujam). Nós vivemos juntos, dormimos juntos (sim dormimos, sem muros separadores nem cintos de castidade envolvidos), comemos juntos, temos um animal de estimação, dividimos despesas, discutimos e fazemos as pazes, passamos serões juntos, recebemos amigos, vamos a festas, temos os nossos passatempos pessoais, somos amigos de verdade e adoramos todos os pontos que referi, para além de nos adorarmos como dois malucos (que, efectivamente, somos). Porque é que há então aquele silêncio acusatório quando dizemos que vivemos juntos? Porquê aquele sorriso gozão se me refiro á J como a minha mulher? Porquê a obrigatoriedade de tratar o ZM e a F como os "pais da minha namorada" quando posso poupar ar, saliva e energia muscular ao designá-los de "sogros"?  

Tenho sido inundado de fotos de festas (quase todas maravilhosas) de casamentos de malta conhecida, e admiro a decisão que tomaram. Mas aquela perguntinha tão inútil e desnecessária "Então e vocês, quando casam?" ás vezes irrita. "Quando nos apetecer!", será a nossa resposta. Continuaremos a ser o mesmíssimo casal, a ter os mesmos sonhos, as mesma responsabilidades, os mesmos projectos do que qualquer outro. Com a singularidade de não estarmos casados. Quer isto dizer que não vamos casar? Óbvio que não! Mas o casamento nunca vai definir quem somos nem a nossa identidade enquanto parelha. Quando casarmos (se casarmos...), tudo isto que eu disse vai voltar à tona, não vai?

Beijinhos e abraços,

Z

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Opostos Atraem-se (!?)

Para falar da minha aventura com o Z, tenho que falar de opostos. Na verdade, não podíamos ser mais antagónicos na nossa essência.
Como já referimos (e de acordo com o rumo deste especinho que vos presenteamos), ele é tripeiro e eu sou açoriana. Aqui começa a "disparidade" nas raízes familiares e geográficas. Ele descende de uma família genuinamente portuense, unindo a história de Campanhã e da Ribeira numa simbiose mágica que levou à pessoa que ele é. Eu, por outro lado, sou descendente de um grupo de navegadores franceses que "tropeçaram" num arquipélago e que, numa tentativa sentida de mudar a sua vida, evoluíram para caçadores de mamíferos pequenos e fáceis de apanhar - baleias!! Ora, imaginem como é que isso correu... Somando todas estas componentes, o resultado sou eu!
E ele é tripeiro e eu sou das ilhas! Que disparidade!

Estes percursos familiares ditaram a nossa personalidade e forma de encarar cada situação; fizeram de nós diferentes em tudo um pouco:

  • ele diz "murcom", eu digo "ó home"
  • eu digo "dez para as cinco", ele diz "cinco menos dez"
  • ele bebe Super Bock e eu aprecio Sagres
  • ele come tripas e francesinhas e eu cozinho sopas do Espírito Santo
  • ele joga andebol, eu danço folcore
  • eu utilizo o gerúndio e ele... bem, ele fala sem quaisquer dificuldades ou incumprimentos ortográficos (alerta vermelho: tema para debate num futuro próximo!)
As nossas cores clubísticas também não podiam ser mais opostas. Eu sou "lampiona" e ele é dragão. Será preciso desenvolver mais este tópico? Na verdade, encontrámos um casal que soube partilhar este antagonismo de forma mais engraçada e persuasiva e que fez de nós fãs (para além de nos poupar imenso a escrever sobre o tema) - falamos do M. e da C. e do seu blogue Lá em casa mando EU.

E pronto! Seria de esperar que ficasse por aqui nas diferenças, visto que já são consideráveis. Contudo, minha gente, a procissão ainda vai no adro (este provérbio teria que ser utilizado em alguma altura da minha existência e achei que cabia bem aqui!).

Fisicamente falando, as discrepâncias são evidentes. Ele é um homem bem-constituído com 1,92 cm, porte atlético, postura firme, pernas longas e mãos definidas (ok, entusiasmei-me! desculpem). Eu sou uma gordinha "porta-chaves" com uns preciosos 12 cm acima do metro e meio, descontraída, dedos rechonchudos e olhos chineses (deve ser da caça à baleia! ah ah). Ele tem olhos claros e cabelo quase loiro, descrição que poderá ser motivo de discórdia, uma vez que o sr. Z considera que é moreno independentemente da nuance do castanho! - e eu sou tipicamente latina, com cabelos e olhos castanhos escuros. Se pudesse colocar esta descrição num desenho, ele seria um alfinete de alto gabarito e eu seria, hummm, talvez este bonequinho!!


O Z é uma pessoa paciente no que toca a situações de stress e pressão, ao invés de mim que fervo em pouca água. Especificamente falando (senhoras e senhores, aí está o aclamado gerúndio!), eu sou daquelas pessoas que dá um berro quando cai uma nódoa na roupa, antecipidando o pesadelo que será tirar aquela porcaria. Ele não acha piada aos meus berros e acaba por exibir um sorriso corriqueiro como quem ridiculariza o (verdadeiro) absurdo da situação.

Ele gere conflitos e eu crio conflitos!

Perante tudo isto, seria de esperar que o próprio destino se encarregasse de nos afastar, mas nós estamos de pedra e cal. Por vezes existem discussões (sim, não somos perfeitos! Longe disso!) que assentam nestas diferenças - e as cores clubísticas são a razão mais frequente -, mas temos conseguido ultrapassar com humor e compreensão. Aliás, a beleza da relação tem sido exatamente a diferença entre nós. A nossa aventura nunca peca por monotonia!

Somos um casal como tantos outros, mas com particularidades que fazem de nós quem somos.

Assim, tenho o maior prazer em partilhar com quem nos segue aquelas que são as particularidades que caracterizam a nossa aventura diária.
ENJOY!

sábado, 3 de maio de 2014

Nós, continentais

No dia em que conheci a J, disputava-se uma final da Taça de Portugal na qual o meu clube do coração levou na boca, sem dó nem piedade. Atendendo ao meu estado de espírito no dia em questão, embora consideremos sempre esse dia como O dia em que nos conhecemos (e em que trocámos números de telemóvel), tenho de admitir que a dor de estar a perder o jogo (roubadinho, nossa senhora!), e o facto de estar a tentar magicar um plano para ir num instante ao Estádio Nacional, atropelar "acidentalmente" o Rodrigo Tiuí (nome do gajo que nos marcou 2 golos), me toldaram um pouco o raciocínio. Mas aqui o Z não dorme em serviço, e fiquei com a menina J debaixo de olho.

Mais tarde, depois de umas mensagens trocadas, surgiu a oportunidade de estarmos juntos. Depois de nos livrarmos da malta que nos acompanhava nessa noite (que chatos!), e de ter soltado um surpreendente "Enfim sós!" - que deixou a J a pensar se havia de ligar para a polícia ou continuar comigo no mesmo espaço - tivemos um bocadinho para falar, finalmente, à vontade, sem pressas, sem horas marcadas, sem preocupações.

E é nesta altura que, caros leitores, cometi erros que, se algum dia namorarem com um(a) açoreano(a) não podem cometer. Mesmo!

Pergunta-me a J "De onde é que achas que eu sou?". Fiz aquela cara de quem é muito entendido na matéria, e pensava para comigo "Sei lá!! Ela de vez em quando usa o gerúndio... Poderá ser alentejana? Não tem sotaque muito acentuado... Também poderia ser lisboeta, ou conimbricense... Bom, vou arriscar: És alentejana!". A J sorriu, abanou a cabeça em sinal de negação, e quis que tentasse de novo. E tentei "Lisboa?". Também não... "Sou açoreana, da ilha do Pico.", disse-me, com a maior naturalidade do mundo. As quatro palavrinhas que proferi de seguida, atentem bem, poderiam ter alterado muita coisa na nossa história de vida. Sempre que conhecemos outra pessoa, seja em que circunstãncia fôr, temos UMA oportunidade para causar boa impressão. Se não a utilizarmos convenientemente, podemos ir "metendo a viola no saco", e abandonar o local, sem olhar para trás. Respondi-lhe "Mas não tens sotaque!"... PUMBAS, em grande caro Z! A expressão da J mudou num piscar de olhos. O olhar, outrora simpático e sereno, tornou-se tenso e assassino. Posso jurar que vi faíscas a saltarem das glândulas lacrimais, e que todos os músculos da face se retesaram ao mesmo tempo. Verbalizou: "Sotaque, têm os micaelenses...", de forma fria, quase crua. Percebi logo ali que estava em sarilhos, e não havia wingman que me pudesse valer. Revi sumariamente toda a conversa até então, procurando ter um porto seguro onde regressar para me safar daquela trapalhada, e evitar o meu provável (e justo) espancamento, após tão vil incidente diplomático. Mas J continuou "... Ou também és dos que acham que os Açores se resumem a S.Miguel?". Pensei logo "Não tenho volta a dar, não há desculpa esfarrapada que me valha.". Desculpei-me pelo meu deslize, tentei amenizar a situação com piadolas, mas a facada estava dada, e a ferida resultante ficou ali, aberta, sangrenta, daquelas que nos impressionam e que até tentamos esconder da vista, mas para a qual acabamos sempre por olhar fixamente, com repugnância. Fiz M***A da grossa, mas vou tentar dar a volta por cima. A J, ainda com ar de quem se prepara para dar a paulada no cachaço do coelho, decidiu pôr-me à prova: "Ao menos sabes quantas ilhas fazem parte do Arquipélago?". "São 9!", respondi, dando graças a todos os santos que conheço (felizmente são poucos), por me ter sido concedida a oportunidade de mostrar sapiência e marcar um ponto positivo (e começar a recuperar dos 100 pontos negativos da brincadeira anterior). "E quais são?", perguntou J. Afinal ela estava a testar-me. Primeiro a pergunta simples, para me dar alguma confiança, para logo a seguir me encostar a pistola á têmpora. Fiz um esforço por começar a pensar em todas as ilhas que não S.Miguel. Pico, claro está, Faial (velha conhecida dos tempos do andebol), Santa Maria (igualmente por causa do andebol), S.Jorge e Terceira.... S. Miguel (olhar cortante por parte da inquiridora)... E bloqueei! Faltavam-me 3! Vergonhoso... Percebeu-se no meu olhar que a fonte da sabedoria estava tão seca como a maioria das minhas piadas, e foi a J que adicionou Flores, Graciosa e Corvo, com o maior desdém que um açoreano pode ter por um continental que não saiba de cor as ilhas do mais belo arquipélago da galáxia (5 pontos positivos para o Z?).
Pensei que tinha borrado a pintura de forma permanente, e que a minha história com a J terminara naquele instante... A verdade é que ela foi uma fofa. Conseguiu perdoar a minha ignorância, e ainda se divertiu mais um pouco com a minha aflição, quando questionou "Sabes em que grupos se dividem as ilhas nos Açores? É fácil, todos os dias se fala nisso no telejornal, na meteorologia...", e eu, que vejo religiosamente telejornais, não soube sequer começar a responder.

A conversa prosseguiu, regressando à toada de paz inicial, toda envolta naquela excitação de estar a conhecer uma pessoa nova, e dar-lhe a conhecer aspectos da nossa vida. Acho que terá sido essa excitação que me fez deixar passar o "Sou benfiquista." com que fui brindado, sem ter tido um ataque cardíaco, agora que penso nisso... Mas tudo ficou melhor, até que disse a segunda pior coisa que podemos dizer a um açoreano (micaelense ou não). Afirmava a J, "Lá nos Açores...", e completou com algo relacionado com a sua terra natal. Poderia ter respondido "Aqui no Porto..." e completado com algo relacionado com a minha terra natal? Sim, poderia e deveria! Mas foi um "Aqui em Portugal..." que me saiu boca fora. De novo a expressão serial killer voltou aos traços da J. "Com que então Açores não faz parte de Portugal?", atirou-me, secamente, como que disfarçando a ofensa que a minha frase provocou.

E foi assim, com duas saídas fenomenais que me estreei na vida da J. Ainda hoje não consigo perceber como isto deu certo. Ou eu sou realmente um ser humano extraordinário (opção que eu próprio, desde já, coloco de parte), ou é a J que revela um sentido de compaixão que deixaria muito boa gente de queixo caído. E realmente gosta de mim. Mesmo eu sendo um continental, que no primeiro contacto mais sério com uma açoreana picarota conseguiu cometer duas gaffes imperdoáveis. Amigos(as), procurem evitar cometer estes erros: eu sei que tive sorte, mas sei também que poderia ter facilmente terminado a noite à porta das Urgências, com uma fractura do osso malar, e sem 3 ou 4 dentes.

Atenção às aulas de geografia e á parte da meteorologia no Telejornal: as ilhas estão divididas em grupos que são todos diferentes (pese embora as temperaturas e a imagem de céu nublado dadas pela meteorologia serem iguais durante todo o ano).




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sexta-feira, 2 de maio de 2014

Começar? Pelo início...

Ja sabemos, hoje em dia há milhões de blogs de casais, que adoram falar sobre montes de coisas de que os casais adoram falar... Se este nosso espacinho é original? Não. Se estamos muuuuito abalados por esse facto? Também não. Eu, J, e o Z - meu companheiro de vida - somos uns seguidores vorazes de toda essa panóplia de excelentes blogs que andam na berlinda, e queremos que se divirtam por estas bandas (nem que seja 1/5 do que nos divertimos a ler os nossos blogs favoritos).
As nossas origens não podiam ser mais diferentes. O Z, nasceu no Porto, cresceu no Porto e agora vive... na Maia, que para todos os efeitos fica na área metropolitana do Porto. É portanto um tripeiro de gema.
Eu, J, nasci na ilha do Pico (mais precisamente na Madalena), nos Açores, e tenho família espalhada pelas ilhas do mais belo arquipélago desta galáxia. Vivi em Lisboa, e quando dei por isso, estava também no Porto. Sou uma picarota orgulhosa, mas não posso deixar de admitir que o Porto já faz parte de mim.
Depois a história é simples: conhecemo-nos, achámo-nos piada e aqui estamos, no sofá do nosso lar, a criar um blogue. Um clássico, portanto!
Vamos falar muito disto mesmo por aqui. Vamos falar das nossas origens e, sempre que possível, enviar a ocasional piadola sobre as origens do outro. Vamos também falar um bocadinho do que é viver com outra pessoa, sem ter na testa aquele rótulo de "estar casado". Deixemo-nos de rodeios, vamos falar do que nos apetecer! E rezar para que gostem do que por aqui se irá escrever.
E pronto, é tudo!
Bem-vindos!

Beijos e Abraços

J e Z