sábado, 30 de agosto de 2014

A distância que nos mudou... para sempre! (Parte II)

Tinham-se passado 7 meses desde a última vez que tínhamos estado juntos. A distância estava a destruir a pouco e pouco a relação que tínhamos criado. Horários desencontrados, chamadas cortadas, nada de soluções à vista.... A nossa paciência estava perigosamente à beira do abismo e nós não estávamos muito longe.

O oportunidade de reencontro deu-se numa deslocação profissional. Podem pensar que seria o momento perfeito para matarmos as saudades, mas a nossa mente transbordava de receio de ouvirmos palavras amarguradas da boca do outro e decidimos não o fazer.
Eu decidi não o fazer!
O receio que tinha de olhar-lhe e sentir que tudo estava acabado, que a distância tinha levado a melhor e que este era o fim, era tão grande que acobardei-me e fugi com o rabinho entre as pernas. Escolhi o caminho mais fácil e decidi que não nos iríamos encontrar. Ele, por outro lado, não deixou fugir a oportunidade. Persistiu e veio ao meu encontro. 

Era um fim de tarde de Maio. O meu coração estava aos saltos e os nervos à flor da pele. Só senti algo semelhante uma outra vez em toda a minha vida: quando vi pela primeira vez a minha sobrinha mais velha! Contudo, desta feita, os nervos e palpitações tinham uma conotação negativa, quase antecipando o rebentar de uma bomba sobre uma cidade em guerra eminente.
Apercebi-me de que aquele seria um momento determinante no nosso percurso romântico. Tratava-se de uma decisão puramente subjetiva, emocional, baseada na adversidade que se desenrolava nas nossas vidas. Em causa estava a capacidade (e prova!) de cada um suportar a distância e acreditar que poderíamos ser superiores às maiores dificuldades que a vida nos pode colocar. Quase um teste para demonstrar como não só nos tempos de emigração dos nossos avós, em que o valor de família e amor justificava a necessidade de passar fronteiras em busca de algo melhor, também nós seríamos capazes de o fazer nos dias de hoje.

A tensão era tremenda. E o receio ainda maior!

Consigo recordar exactamente o que senti ao vê-lo e a expressão que ele esboçou quando me viu.
Ele saiu do comboio e eu fiquei à espera de encontrar os seus olhos. Tinha fé de que o olhar dele diria tudo o que não queríamos proferir e que tudo ficaria resolvido; fé de que não seriam necessárias palavras amarguradas, lágrimas ou despedidas. Mas o olhar dele nada me disse. Nada!
Apesar da expressão séria e compenetrada, o Z não me desvendou nada do que sentia em relação a tudo o que estávamos a passar.
Se estava nervosa antes, então aí é que a coisa ficou pior.

Decidimos ir jantar com calma e enfrentar o touro pelos cornos, como se diz.
Foi estranho estar em frente a ele, cheirar o seu perfume e não haver quase contacto, nem empatia. O cansaço de lutar por algo tão estanque e inalcançável como a distância era visível nos nossos rostos, na nossa postura e na nossa vontade. Estávamos cansados, derrotados e pouco crentes numa resolução para o que se passava.
A conversa que se seguiu não foi fácil e foram ditas as verdades que não se queriam ouvir, mas as nossas almas mereciam algum descanso e desaforo perante tremenda odisseia. Abordou-se a questão da incompatibilidade de horário, dos desencontros telefónicos, até o ódio pessoal do telemóvel. Mas o inevitável era saber como seria a nossa vida daquele momento em diante.
Na verdade, estávamos em pólos opostos neste ponto. O que um achava melhor ia contra o que o outro defendia. Alguém tinha que ceder. Mas quem? Tínhamos emprego nas nossas terras, estávamos perto das respectivas famílias e amigos e o futuro parecia prometedor para cada um no local em que se encontrava. E então? Como se resolvia este quebra-cabeças?

A resposta, caros amigos, não vos é difícil, uma vez que o nosso cantinho da blogosfera desvenda o final desta encrenca (se me permitem o termo). Mas posso confidenciar-vos que foi muito difícil chegar a um consenso e foi mais difícil ainda ceder em medidas iguais. A amargura acumulada nos meses de distância estava a toldar a nossa capacidade de raciocinar de forma altruísta (ou mesmo egoísta, enquanto casal) e as respostas dadas eram frias e secas. Quem nos visse, poderia pensar que éramos inimigos forçados a dialogar para resolver questões insolucionáveis.
A solução não foi ditada nesse dia. Nem tão pouco nos dias que se seguiram. Com o tempo, chegámos ao acordo de que o Porto seria o melhor lugar para chamar de casa e que seria eu a adaptar-me aos modos do Norte, com as esporádicas viagens à terra para matar saudades da família e recuperar a energia.

Podem perguntar-se se fui eu que cedi! Não, não fui. Ambos cedemos. Como em qualquer decisão importante na nossa vida, não há certo, nem errado. Avaliámos as condições de cada um, pesámos as hipóteses e escolhemos aquilo que, para nós, parecia o menos prejudicial na altura. Se fosse hoje, provavelmente teríamos decidido algo diferente... ou não! Nada é certo.
Apenas nos resta perguntar: a decisão tomada deixou-nos felizes? Eu respondo que sim. Apesar das saudades tremendas da minha família e amigos, sinto que tomei a decisão certa para a altura e escolhi o melhor caminho para mim. Escolhi a minha paixão pelo Z e o nosso amor provou ser de pedra e cal. Uma prova ultrapassada com sucesso. Atribulada, sem dúvida, mas com sucesso!

Mas digo-vos com toda a sinceridade:
Não me arrependo de nada do que fiz, mas não conseguiria passar por tudo novamente.


P.S.: Nada é fácil na nossa vida. Quando pensamos que somos afortunados e que tudo corre bem, a vida prega-nos partidas e, por vezes, essas partidas revelam-se muito difíceis de resolver. Aprendi com a minha querida Avó Amélia que o amor vale sempre a pena e que pode durar toda uma vida. Foi por acreditar nisso que consegui aguentar e ultrapassar tudo.

Dedico-lhe esta história. Espero que a deixe orgulhosa.

Amo-te Amelita. Descansa em Paz.

sábado, 9 de agosto de 2014

A distância que nos mudou... para sempre! (Parte I)

As histórias que temos partilhado são hinos (pessoais) ao amor, à confiança e ao respeito. Através das nossas aventuras, temos transmitido o melhor do mundo a dois, vivido por duas pessoas diferentes mas semelhantes.
Mas seria hipocrisia da nossa parte esconder que existem maus momentos. Situações difíceis e, por vezes, desgastantes. Nós não somos diferentes, portanto também vivemos episódios menos coloridos.

A história que passo a contar foi um desses momentos: podia unir-nos de forma sólida ou podia representar o fim de uma relação.

No dia 10 de Outubro de 2010, eu regressei aos Açores depois da conclusão do meu curso superior. O objetivo era trabalhar e não haviam propostas que me permitissem ficar pela Invicta. O meu coração estava derrotado, destruído e magoado. Em prol do meu sucesso profissional, estava a deixar o meu amor, a minha cara-metade para trás.
A decisão tinha sido pensada vezes sem conta e a parte racional sobrepunha-se ao coração.
Contudo, com a minha partida, não havia garantia ou data certa de regresso. Nem havia mesmo possibilidade do Z ir trabalhar para a ilha comigo por falta de propostas. Era tudo uma incógnita.
Embora fosse uma preocupação para ambos, os dias que antecederam a minha partida foram intensos, porque não se falou d' "o assunto"! Era demasiado doloroso.

Aquela despedida no aeroporto foi das coisas mais difíceis que tive de fazer. Não há sensação pior do que olhar através do vidro de embarque e ver a pessoa que nos preenche do outro lado, a chorar, sem que isso seja razão suficiente para ficarmos. Até hoje convenço-me que "tinha que ser assim...". 
As horas de espera na sala de embarque e de viagem foram penosas, assombradas pela vontade crescente de voltar para trás e arranjar uma maneira de ficarmos juntos. Pensei e repensei todas as decisões que tinham levado àquele momento e consegui argumentar milhões de motivos para ficar. Mas não fiquei.

Fui racional e não emocional. Até hoje arrependo-me de ter sido assim.

Cheguei ao Pico, inundei-me de amor dos pais e comecei a trabalhar. Pensei que isso impediria a minha mente de divagar para pensamentos escuros. "Será que fiz bem?", "haveria outra alternativa que não contemplei?", "será que eu e o Z vamos suportar isto?"... A verdade é que não sabia e essa incerteza estava a corroer-me por dentro. Mais e mais a cada dia que passava.

O tempo em nada suavizou a dor de estar longe dele. Podíamos falar 3 a 4 vezes por dia, até "skypar" todas as noites, mas não era suficiente. Faltava o toque, o cheiro, o som puro da gargalhada, o calor humano. Por mais forte que seja o amor entre duas pessoas, a distância é macabra e consegue enraizar medos e incertezas que abalam os pilares mais fortes de uma relação. Não tardou muito para que isso acontecesse connosco.

Ele começou a trabalhar e passou a estar mais ocupado. A diferença horária, ainda que mínima, dificultava a nossa comunicação durante o dia, porque o almoço não coincidia. Até a hora de saída do meu emprego chocava com a entrada do treino para ele. As semanas eram campos de batalha para saber um do outro.
Lembro-me perfeitamente de começar a odiar o telemóvel: não me podia separar dele e ele nem sempre servia a sua função: precisava de falar com o meu amor e as tecnologias de nada serviam para atenuar a distância.
Os fins-de-semana não eram melhores. O Z tinha jogos aos sábados e as noites dele eram passadas com amigos e jantaradas para esquecer a dor da distância. Os meus dias de folga eram passados a trabalhar com amigos para juntar mais uns trocos, a fim de pagar a passagem para o Porto. Se eu ligava, mal conseguia ouvir a sua voz. Se ele ligava, eu nem sempre tinha tempo para falar.

A distância estava a conseguir vencer o duelo com o amor.  

Com o passar das semanas, tornou-se cada vez mais difícil falar e a nossa paciência estava a esgotar-se a um ritmo alarmante. As discussões começaram a tornar-se constantes e as dúvidas sobre a verdadeira força da nossa relação estavam presentes em cada suspiro.
Para vos ser sincera, ainda choro quando penso nisso, porque foi dos maiores e mais difíceis desafios que tive de ultrapassar. Tudo o que eu queria estava em pontos geograficamente diferentes e era humanamente impossível conciliar tudo. Mas eu tentei! E tentei com todas as forças, todas as lágrimas, todas as preces que consegui.

Até que um dia senti que estava a lutar sozinha por nós! Ele parecia cada vez mais distante, mais frio e menos apaixonado. Não conseguia falar com ele sem que ele me parecesse frustrado, zangado e desinteressado; tudo menos apaixonado e confiante de que as coisas iriam melhorar.
Essa dor foi fulminante! Como se tivessem trespassado o meu coração com uma lança em brasa.
Estar longe é muito difícil, mas sentir que a outra pessoa pode estar a deixar de amar-nos é avassaladora!!

Foi em Maio de 2011 que, por motivos de trabalho, tive que deslocar-me a Lisboa e aconteceu o nosso encontro após 7 meses.
Seria de esperar uma corrida para os braços um do outro, uma avalanche de beijos apaixonados e um abraço interminável para suprir tudo que tinha sido adiado desde outubro. Mas não!
Esse encontro foi aquele momento em que tudo se decidiu. Em que tudo mudou de rumo.