quarta-feira, 21 de maio de 2014

Música...? Sim, por favor

Falar de nós os dois é falar de música. Somos amantes de variados géneros e a música é parte activa da nossa vivência. Aliás, no início da nossa história, a música desempenha um papel fundamental como factor de destino e união.


Mas comecemos pelo início...

Desde pequenina que tenho uma paixão pelo canto. Fechada na marquise de casa dos meus pais, passava horas infindáveis a tentar reproduzir as obras de artistas femininas que representavam o ideal de cantora para mim - Aretha Franklin, Celine Dion, Mariah Carey, Whitney Houston... enfim, uma série delas.
Com o passar do tempo, tive o privilégio de participar em bandas que animavam bailaricos carnavalescos e acabei por ter um projecto com um grupo de amigos que chegou a diferentes palcos nacionais. Não fui estrela famosa, mas pude experimentar a emoção de cantar para plateias de milhares de pessoas e conhecer artistas de renome nacional.
Ao entrar para a faculdade, não restavam dúvidas de que faria parte da tuna académica para manter esta paixão acesa. Pois bem, foi aqui que os astros começaram a alinhar-se para que eu e o Z cruzássemos o caminho um do outro.

Certo dia de Verão, no longínquo ano de 2007 (se não me falha a memória), a tuna foi convidada para ser anfitriã de um evento comemorativo dos 20 anos de Erasmus. O evento, realizado na mui nobre Casa da Música, consistia em apresentações multi-culturais por diferentes tunas, evocando os países que constituíam a rede de Erasmus a vigorar na Europa. A minha tuna ficara incumbida de representar o país que nos alberga e, nesse sentido, o cancioneiro remetia para músicas que marcaram a nossa história. Pessoalmente, era um dia importante porque seria a minha estreia a cantar o Fado Português, original de Amália Rodrigues e interpretado por Dulce Pontes, tarefa nada fácil de cumprir. 
Estava nervosa e sentia que este era um dia que não mais me esqueceria.
A festa estava a chegar ao fim e chegara o tão aguardado momento de cantar para uma sala cheia de pessoas de diferentes línguas, origens e passados. 

Meus queridos, se há palavra que possa descrever aproximadamente o que se passou nos 5 minutos seguintes, posso garantir que foi MAGIA. A sala ficou em silêncio, os corações bateram ao ritmo de cada acorde e o sentimento foi magnânimo. Nunca me senti tão feliz na minha vida.

Mas perguntam vocês: que tem isto que ver com a história da J e do Z?

Bem, o Z estava na plateia, acompanhado pela sua mãe, e embora não nos conhecêssemos então, ele prometeu a quem o estivesse a ouvir que casaria com "a rapariga que cantou o fado"!

Curioso, não?!...

Passado quase um ano, a música voltou a alinhar as estrelas para que nos encontrássemos e foi num ensaio de música, em casa de uma amiga em comum, que eu conheci o Z. Era o dia 18 de Maio de 2008.

Desde esse dia, nunca mais nos separámos.

Descobri que também ele era apaixonado por música. Aprendera a tocar guitarra e fazia serões familiares a tocar e cantar as músicas que mais gostava, tendo inclusive colaborado numa banda. Embora não pertencesse a nenhuma tuna ou grupo musical, a guitarra era a sua fiel companheira e, ainda hoje, está pronta para ser tocada.
Quando a noite não convida a sair ou a ver televisão, ele afina as cordas e eu vou buscar os gatafunhos com letras e lá nos aventuramos em mais um serão de jam session particular.
O tom seguro e rouco da sua voz aninha-se à suavidade do meu timbre e, juntos, criamos uma harmonia perfeita, acompanhada pela amargura e pelo ritmo da guitarra. O casamento ideal entre a música e a paixão.

Podem perguntar-se se temos uma música nossa, como é comum acontecer entre casais, mas a resposta não será a esperada. Considero que a minha aventura com o Z tem sido tão maravilhosa e inesperada, que seleccionar apenas uma música seria reduzir tudo isto a uma unidade demasiado pequena para medir o nosso amor. Por isso, poderia estar um dia inteiro a falar das músicas que nos identificam e que são a banda sonora da nossa relação. Como não gosto de maçar ninguém, vou poupar-vos desse testamento, mas garanto-vos uma coisa: se nos perguntassem se poderíamos viver sem música, diríamos logo que não! Música na nossa vida? Sim, por favor! E sempre!



quinta-feira, 15 de maio de 2014

"Tripeirização" da J

Nota prévia: o texto seguinte está bem regado de palavrões. Tentei disfarçá-los com asteriscos mas, não adianta muito...  De qualquer forma, considerem-se avisados!

Pertencer a um clã é algo que faz parte do nosso crescimento. Passamos do clã que nos é mais próximo (a família), para os clãs dos diferentes amigos que vamos fazendo ao longo da nossa vida (tantas vezes com laços iguais ou mais fortes do que a própria família). Podemos ser do clã que adora romances do Nicholas Sparks (eu não sou, e estão à vontade para me internar ou esbofetear se alguma vez me virem a folhear um livro dele), ou dos thrillers de espionagem de John Le Carré (se alguma vez lerem, levem bloco de notas para apontar o nome de todas as personagens). Mais novos, juntamo-nos aos clãs da música pesada, mas o nosso ouvido vai ficando mais exigente e acabamos por não conseguir resistir aos clássicos dos saudosos anos 70 e 80. Pertenceremos sempre a um clã desportivo (e nunca, mas nunca, mas nunca mudaremos) e vamos saltitando de clã político em clã político (consoante os tempos e... foda-se, sejamos honestos, as nossas necessidades). Depois temos os clãs geográficos, e individualizo: a J é do clã dos picarotos; eu sou do clã dos tripeiros.



Todos os que nos lêem se identificam com a sua "terra". De Norte a Sul, Litoral e Interior, Açores e Madeira, não há quem não sinta com orgulho as suas origens. Hoje vou falar-vos um pouco do que representa ser tripeiro.

Um tripeiro verdadeiro conhece a sua cidade de lés a lés. 
Carrega nos "b" com maior vontade e orgulho quando fala com alguém de fora.
Vai até à marginal de Gaia para poder olhar pela milésima ocasião para a Ribeira e admira com a mesma paixão da primeira vez cada pormenor de cada casa velhinha que se encavalita pela encosta acima.
Continua sem perceber como foi possível criar obras tão sublimes como as nossas pontes, as novas e as antigas, que de tão bem desenhadas, parecem extensões naturais de Porto e Gaia.

Não aceita que se diga "cão" quando toda a gente vê que está ali um "caounhe".
Não sabe o que é uma "sarjeta", quando é do conhecimento geral que no Porto há "boeiros".
"Caricas"? Pfff... Nas garrafas há "sameiras"!
Mergulha no bulício do Bolhão, banha-se no perfume do peixe fresco e das flores, sorri perante o atrevimento das peixeiras, e não sai sem levar alguma coisa para casa.

O cardápio de cervejas tem "Super Bock". O cardápio de bebidas semelhantes a cerveja tem "outras cervejas". Que, só por acaso, são uma m*rda. Desculpem...
Sente-se insultado se o tratam por Senhor e não por Menino. Sente-se ultrajado por ter sido tratado por Senhor e não "Sinhor". As meninas serão sempre Meninas (com um grande ênfase no "i"), sejam filhas, netas ou avós.

Se encontra um amigo de longa data na rua, não descansa enquanto não o "conbida" para ir lá a casa "comer até cair pó lado e mamar uns finos". E é fiel a esta promessa. 
Conduz como um assassino e é mais capaz de perdoar um insulto enviado pelo outro condutor do que uma buzinadela só porque o sinal virou para verde (moda nova que algum chico-esperto trouxe de "lá de baixo").
Brinda o condutor que buzinou, com um "Quié que queres oh filha da p*ta?!" enquanto olha indignado pelo retrovisor e encolhe os ombros com violência.

"Palavrões? Quéssa m*rda? Oooooh... Paaaash! (Pooois! dito em versão tripeira)."
Quando quer que parem de o incomodar diz "Ooooh bai-má loja".
Mesmo que não aprecie a "pomada", vai sentir um orgulho imenso em ver o Vinho do Porto a ser referido em filmes ou programas estrangeiros.

"Cabides" são locais atrás de portas (ou pregados em paredes) onde se pendura alguma peça de roupa. "Cruzetas" são os suportes que vemos dentro dos armários, para colocar fatos (por exemplo). Toda a gente sabe disto malta!
Come francesinha, ama francesinha, sabe que só no Porto há boas francesinhas e só não acompanha a francesinha com um fino se estiver a tomar antibiótico (e mesmo assim pensa duas vezes...).
Come tripas, rojões e redenho frito como quem come pão com manteiga.
Come na "Tasca da Badalhoca" e tem a maior honra em poder comer num sítio com tal nome. Continua sem compreender como há quem faça cara feia quando sabe que há uma "Tasca da Badalhoca" onde toda a gente gosta de comer. 
Até pode já ter provado caracóis e adorado o petisco, mas nunca o vai admitir.

Ontem, hoje e sempre vai estar convencido que "c*ralho" é efectivamente uma bengala verbal. E Deus sabe como nós amaaaamos usar bengalas verbais no dia a dia.

Até pode admitir que há outras cidades belíssimas em conversas com outros tripeiros, mas para "os de fora", o Porto... é a mais bela cidade do Mundo c*ralho!

Faltarão aqui diversas características, mas não vos queria cansar com tanta perfeição...
A J veio para o Porto em 2006 mas, como é óbvio, só em 2008 começou a descobrir o verdadeiro Porto e o verdadeiro significado de tripeiro. Obviamente porque foi nesse ano que me conheceu!
Adoro a J. Amo as origens da J. Fui poucas vezes ao Pico (com muita pena minha), mas sinto-me sempre em casa quando lá estou. Também aquele pedaço de paraíso está repleto de pessoas maravilhosas (começando pelo JM e pela F) que sabem receber como ninguém. Não quero nunca que a J perca essa identidade, porque foi assim que a conheci e que por ela me perdi de amores.
Mas quando no outro dia, enquanto a J conduzia - ia eu no lugar do pendura -, o indivíduo da frente fez uma enorme asneira e ainda protestou com a J, tendo ela soltado "Obelá, oh seu filho da p*ta, precisas que te ensine a conduzir, c*ralho??", seguido do gesticular e do encolher de ombros, confesso que uma lágrima de orgulho me rolou pela face. Pensei "Já está... Esta já é das nossas!".

J, considera-te "tripeirizada".

Beijinhos e abraços,





terça-feira, 13 de maio de 2014

Tarefas e Lençóis!

Podemos afirmar que a nossa independência tem início, na minha humilde opinião, quando nos é atribuído um espaço só "nosso", na casa dos nossos pais. Seja uma cama ou um quarto, passamos a ter a  responsabilidade de gerir um quarto e tudo o que nele está contido.
A principal vantagem que retirei desse passo foi a liberdade de dormir como bem me apetecia sem que ninguém me chateasse: podia dormir de pijama ou "peladinha", em posição fetal ou na diagonal, de pés na cabeceira até, mas ninguém me pedia explicações.

Quando tomámos o passo de viver juntos, eu e o Z mal sabíamos o que nos esperava. Sim, ouvimos os discursos de toda a gente sobre "ai, agora é que vão sentir as responsabilidades", mas precisámos de bater com a cabeça na parede para aprender. 
Para vos ser sincera, todas as questões de tratar de uma casa - pagar contas, instalar o operador de canais de TV e internet, pagar renda -, embora custem no bolso, foram relativamente fáceis de cumprir. Mesmo que nos tenha escapado algum serviço no início, a necessidade encarregou-se de nos avisar para a sua pertinência e nunca nos faltou nada até agora. 

Um verdadeiro desafio para mim foi estabelecer rotinas e cumprimento de tarefas entre ambos!

Uma coisa é lavar roupa ou loiça de uma pessoa, outra completamente diferente é lavar loiça ou roupa de dois, com emprego à mistura, cansaço que acumula e com horários que parecem intermináveis. 
Aqui reside a essência das dificuldades de viver com outra pessoa: dividir tarefas! Se olharmos para esta questão do ponto de vista matemático, poderia falar-se de uma fórmula ou equação que soma o total de tarefas vezes o grau de dificuldade a dividir pelos intervenientes e o respectivo grau de cansaço ou  horário de trabalho; da perspectiva histórica, poder-se-ia dizer que a luta pela igualdade dos sexos determina que ambos devem cumprir o mesmo número de tarefas ou, em alternativa, definir um sistema rotativo que permita que cada um cumpra determinada tarefa em diferentes alturas; numa análise prática, o sistema de cada-um-trata-das-suas-coisas pode ser instituído, mas apela à vida estudantil e não ao casal. Pois bem, então como se faz? Alguém me explica?! 
Eu identifico três períodos distintos naquilo que posso designar como o Ciclo das Tarefas na Casa de Z e J: um primeiro momento em que são debatidas as tarefas e a forma de distribuição (é sempre um período calmo e engraçado, cheio de altruísmo e espírito de entre-ajuda); um segundo período, em que existe a efectiva realização de tarefas, com clara discordância com o acordo estabelecido inicialmente (caracterizado por alguma sensação de compreensão pela indisponibilidade do outro, embora jorrada por alguma irritação pelo incumprimento); e, por fim, a conclusão do ciclo em que as tarefas foram maioritariamente realizadas por apenas um dos elementos (com sentimentos melhor descritos pela antecipação de uma batalha naval!). Terminado o ciclo, eu expludo contra o Z e ele pede desculpa, dando início a um novo Ciclo de Tarefas. O que muda? Geralmente, pouco! Mas há sempre esperança.

Se analisar tudo isto de forma fria e ponderada, não estou muito longe do que acontecia em casa dos meus pais, em relação a meu irmão e à distribuição de tarefas. As condições são diferentes, claro, mas a essência da disputa é a mesma e, portanto, posso encarar isto como a exibição de uma peça com o mesmo argumento, mas com diferentes actores.

A única diferença é a minha cama!

Em casa dos meus pais, como referi no início, chegava ao final do dia e podia voltar para o meu ninho em segurança. Podia sentar-me na cama a ler um livro ou ouvir música, podia abrir os meus cofres de adolescente (com segredos importantes para a minha reputação escolar da altura), podia até optar por dormir por cima da roupa nas noites quentes de Verão. Agora.... bem, agora tenho que partilhar com o Z o meu ninho e isso tem revelado ser tarefa digna do Sylvester Stallone.

Aqui vai uma análise da pontuação no ringue:

Espaço ocupado na cama: 
Z - 1             J - 0

Puxar pelos lençóis:
Z - 0            J - 1

Capacidade de lidar com o frio:
Z - 1            J - -5

Pancadas inconscientes com alguma violência:
Z - 0            J - 3

Por outras palavras, somos tão diferentes no rancho dos lençóis como somos nas origens.
Ele é calorento e dorme com o mínimo de roupa de cama, ao invés de mim que preciso de 3 edredões para suportar o frio invernoso. Ele não suporta flanela e isso retira-me um dos maiores prazeres a nível de lençóis de cama. Eu necessito de espaço para mexer-me (e mexo-me bastante durante o sono) e isso representa algumas pancadas inesperadas enquanto o Z dorme. E, confesso, aproveito para puxar lençóis e edredões todos para o meu lado (em minha defesa, ele é calorento...). 
Toda a beleza de partilhar o ninho com o amado ganha uma nova perspectiva quando a realidade surge. Haverá solução? Talvez. Por enquanto, ficam as batalhas rockianas e mais uma história para contar.

Quanto ao futuro? Bem, só o próprio dirá como nos vamos adaptar, mas por enquanto fica a ideia de que a vida de casal (pelo menos, a minha) é uma batalha que, na sua essência, luta-se nos lençóis.

Beijinhos,

J

quarta-feira, 7 de maio de 2014

"Então, quando casam?"

Apesar de estarmos a viver o primeiro 1/5 do séc. XXI, viver com outra pessoa sem estar efectivamente casado nem estar a dar passos de gigante rumo à boda, ainda é algo que se vê com alguma desconfiança. A pressão inerente ao "grande passo" está aí, palpável, tensa, a espreitar a cada esquina, só à espera para apanhar na sua teia um casal inocente. 

"Z, que é isso de estares a diabolizar o casamento?", será concerteza a pergunta que percorre a mente de muitos de vós, queridíssimos leitores. Se fôr o caso, não poderia estar mais errada. O casamento é algo que respeito e admiro. Para além de uma demonstração única do nosso amor por outra pessoa, é uma óptima oportunidade para reunir todos os que nos são mais queridos e envolvê-los, de forma indelével (o uso deste adjectivo merece tanto comentários positivos no final do post...), na história da vida que procuramos construir com a pessoa que amamos. Também é uma oportunidade fantástica para recebermos prendas ultra valiosas e de recebermos milhões de beijinhos e beliscões nas bochechas por parte da faixa etária mais idosa de ambas as famílias. Significará ter os nossos amigos a cair de bêbedos nas mesas do fundo, enquanto contam histórias de fazer corar os mais extrovertidos. Será a oportunidade ideal para toda a gente constatar que não possuo, como a grande maioria dos seres vivos, o gene que conjuga bom gosto musical com capacidade para me mover harmoniosamente ao som de qualquer música (estou convencido que um orangotango com epilepsia parecerá o Michael Jackson perto de mim).


Para pessoas de fé, significará algo de muito mais completo e significativo mas, como profundo ateu, não me atrevo a seguir por esse caminho. E é essa a beleza do casamento: não é propriedade de ninguém; pode ter o significado que lhe quisermos dar (o que é bom, visto que somos nós quem toma a decisão de casar). Para mim, portanto (e para a J também, estou certo), o casamento tem um cariz mais festivo, do que propriamente um significado altamente profundo. 

Deixem-me explicar isto com calma, para não dar azo a protestos (e para que as prendas ultra valiosas não nos fujam). Nós vivemos juntos, dormimos juntos (sim dormimos, sem muros separadores nem cintos de castidade envolvidos), comemos juntos, temos um animal de estimação, dividimos despesas, discutimos e fazemos as pazes, passamos serões juntos, recebemos amigos, vamos a festas, temos os nossos passatempos pessoais, somos amigos de verdade e adoramos todos os pontos que referi, para além de nos adorarmos como dois malucos (que, efectivamente, somos). Porque é que há então aquele silêncio acusatório quando dizemos que vivemos juntos? Porquê aquele sorriso gozão se me refiro á J como a minha mulher? Porquê a obrigatoriedade de tratar o ZM e a F como os "pais da minha namorada" quando posso poupar ar, saliva e energia muscular ao designá-los de "sogros"?  

Tenho sido inundado de fotos de festas (quase todas maravilhosas) de casamentos de malta conhecida, e admiro a decisão que tomaram. Mas aquela perguntinha tão inútil e desnecessária "Então e vocês, quando casam?" ás vezes irrita. "Quando nos apetecer!", será a nossa resposta. Continuaremos a ser o mesmíssimo casal, a ter os mesmos sonhos, as mesma responsabilidades, os mesmos projectos do que qualquer outro. Com a singularidade de não estarmos casados. Quer isto dizer que não vamos casar? Óbvio que não! Mas o casamento nunca vai definir quem somos nem a nossa identidade enquanto parelha. Quando casarmos (se casarmos...), tudo isto que eu disse vai voltar à tona, não vai?

Beijinhos e abraços,

Z

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Opostos Atraem-se (!?)

Para falar da minha aventura com o Z, tenho que falar de opostos. Na verdade, não podíamos ser mais antagónicos na nossa essência.
Como já referimos (e de acordo com o rumo deste especinho que vos presenteamos), ele é tripeiro e eu sou açoriana. Aqui começa a "disparidade" nas raízes familiares e geográficas. Ele descende de uma família genuinamente portuense, unindo a história de Campanhã e da Ribeira numa simbiose mágica que levou à pessoa que ele é. Eu, por outro lado, sou descendente de um grupo de navegadores franceses que "tropeçaram" num arquipélago e que, numa tentativa sentida de mudar a sua vida, evoluíram para caçadores de mamíferos pequenos e fáceis de apanhar - baleias!! Ora, imaginem como é que isso correu... Somando todas estas componentes, o resultado sou eu!
E ele é tripeiro e eu sou das ilhas! Que disparidade!

Estes percursos familiares ditaram a nossa personalidade e forma de encarar cada situação; fizeram de nós diferentes em tudo um pouco:

  • ele diz "murcom", eu digo "ó home"
  • eu digo "dez para as cinco", ele diz "cinco menos dez"
  • ele bebe Super Bock e eu aprecio Sagres
  • ele come tripas e francesinhas e eu cozinho sopas do Espírito Santo
  • ele joga andebol, eu danço folcore
  • eu utilizo o gerúndio e ele... bem, ele fala sem quaisquer dificuldades ou incumprimentos ortográficos (alerta vermelho: tema para debate num futuro próximo!)
As nossas cores clubísticas também não podiam ser mais opostas. Eu sou "lampiona" e ele é dragão. Será preciso desenvolver mais este tópico? Na verdade, encontrámos um casal que soube partilhar este antagonismo de forma mais engraçada e persuasiva e que fez de nós fãs (para além de nos poupar imenso a escrever sobre o tema) - falamos do M. e da C. e do seu blogue Lá em casa mando EU.

E pronto! Seria de esperar que ficasse por aqui nas diferenças, visto que já são consideráveis. Contudo, minha gente, a procissão ainda vai no adro (este provérbio teria que ser utilizado em alguma altura da minha existência e achei que cabia bem aqui!).

Fisicamente falando, as discrepâncias são evidentes. Ele é um homem bem-constituído com 1,92 cm, porte atlético, postura firme, pernas longas e mãos definidas (ok, entusiasmei-me! desculpem). Eu sou uma gordinha "porta-chaves" com uns preciosos 12 cm acima do metro e meio, descontraída, dedos rechonchudos e olhos chineses (deve ser da caça à baleia! ah ah). Ele tem olhos claros e cabelo quase loiro, descrição que poderá ser motivo de discórdia, uma vez que o sr. Z considera que é moreno independentemente da nuance do castanho! - e eu sou tipicamente latina, com cabelos e olhos castanhos escuros. Se pudesse colocar esta descrição num desenho, ele seria um alfinete de alto gabarito e eu seria, hummm, talvez este bonequinho!!


O Z é uma pessoa paciente no que toca a situações de stress e pressão, ao invés de mim que fervo em pouca água. Especificamente falando (senhoras e senhores, aí está o aclamado gerúndio!), eu sou daquelas pessoas que dá um berro quando cai uma nódoa na roupa, antecipidando o pesadelo que será tirar aquela porcaria. Ele não acha piada aos meus berros e acaba por exibir um sorriso corriqueiro como quem ridiculariza o (verdadeiro) absurdo da situação.

Ele gere conflitos e eu crio conflitos!

Perante tudo isto, seria de esperar que o próprio destino se encarregasse de nos afastar, mas nós estamos de pedra e cal. Por vezes existem discussões (sim, não somos perfeitos! Longe disso!) que assentam nestas diferenças - e as cores clubísticas são a razão mais frequente -, mas temos conseguido ultrapassar com humor e compreensão. Aliás, a beleza da relação tem sido exatamente a diferença entre nós. A nossa aventura nunca peca por monotonia!

Somos um casal como tantos outros, mas com particularidades que fazem de nós quem somos.

Assim, tenho o maior prazer em partilhar com quem nos segue aquelas que são as particularidades que caracterizam a nossa aventura diária.
ENJOY!

sábado, 3 de maio de 2014

Nós, continentais

No dia em que conheci a J, disputava-se uma final da Taça de Portugal na qual o meu clube do coração levou na boca, sem dó nem piedade. Atendendo ao meu estado de espírito no dia em questão, embora consideremos sempre esse dia como O dia em que nos conhecemos (e em que trocámos números de telemóvel), tenho de admitir que a dor de estar a perder o jogo (roubadinho, nossa senhora!), e o facto de estar a tentar magicar um plano para ir num instante ao Estádio Nacional, atropelar "acidentalmente" o Rodrigo Tiuí (nome do gajo que nos marcou 2 golos), me toldaram um pouco o raciocínio. Mas aqui o Z não dorme em serviço, e fiquei com a menina J debaixo de olho.

Mais tarde, depois de umas mensagens trocadas, surgiu a oportunidade de estarmos juntos. Depois de nos livrarmos da malta que nos acompanhava nessa noite (que chatos!), e de ter soltado um surpreendente "Enfim sós!" - que deixou a J a pensar se havia de ligar para a polícia ou continuar comigo no mesmo espaço - tivemos um bocadinho para falar, finalmente, à vontade, sem pressas, sem horas marcadas, sem preocupações.

E é nesta altura que, caros leitores, cometi erros que, se algum dia namorarem com um(a) açoreano(a) não podem cometer. Mesmo!

Pergunta-me a J "De onde é que achas que eu sou?". Fiz aquela cara de quem é muito entendido na matéria, e pensava para comigo "Sei lá!! Ela de vez em quando usa o gerúndio... Poderá ser alentejana? Não tem sotaque muito acentuado... Também poderia ser lisboeta, ou conimbricense... Bom, vou arriscar: És alentejana!". A J sorriu, abanou a cabeça em sinal de negação, e quis que tentasse de novo. E tentei "Lisboa?". Também não... "Sou açoreana, da ilha do Pico.", disse-me, com a maior naturalidade do mundo. As quatro palavrinhas que proferi de seguida, atentem bem, poderiam ter alterado muita coisa na nossa história de vida. Sempre que conhecemos outra pessoa, seja em que circunstãncia fôr, temos UMA oportunidade para causar boa impressão. Se não a utilizarmos convenientemente, podemos ir "metendo a viola no saco", e abandonar o local, sem olhar para trás. Respondi-lhe "Mas não tens sotaque!"... PUMBAS, em grande caro Z! A expressão da J mudou num piscar de olhos. O olhar, outrora simpático e sereno, tornou-se tenso e assassino. Posso jurar que vi faíscas a saltarem das glândulas lacrimais, e que todos os músculos da face se retesaram ao mesmo tempo. Verbalizou: "Sotaque, têm os micaelenses...", de forma fria, quase crua. Percebi logo ali que estava em sarilhos, e não havia wingman que me pudesse valer. Revi sumariamente toda a conversa até então, procurando ter um porto seguro onde regressar para me safar daquela trapalhada, e evitar o meu provável (e justo) espancamento, após tão vil incidente diplomático. Mas J continuou "... Ou também és dos que acham que os Açores se resumem a S.Miguel?". Pensei logo "Não tenho volta a dar, não há desculpa esfarrapada que me valha.". Desculpei-me pelo meu deslize, tentei amenizar a situação com piadolas, mas a facada estava dada, e a ferida resultante ficou ali, aberta, sangrenta, daquelas que nos impressionam e que até tentamos esconder da vista, mas para a qual acabamos sempre por olhar fixamente, com repugnância. Fiz M***A da grossa, mas vou tentar dar a volta por cima. A J, ainda com ar de quem se prepara para dar a paulada no cachaço do coelho, decidiu pôr-me à prova: "Ao menos sabes quantas ilhas fazem parte do Arquipélago?". "São 9!", respondi, dando graças a todos os santos que conheço (felizmente são poucos), por me ter sido concedida a oportunidade de mostrar sapiência e marcar um ponto positivo (e começar a recuperar dos 100 pontos negativos da brincadeira anterior). "E quais são?", perguntou J. Afinal ela estava a testar-me. Primeiro a pergunta simples, para me dar alguma confiança, para logo a seguir me encostar a pistola á têmpora. Fiz um esforço por começar a pensar em todas as ilhas que não S.Miguel. Pico, claro está, Faial (velha conhecida dos tempos do andebol), Santa Maria (igualmente por causa do andebol), S.Jorge e Terceira.... S. Miguel (olhar cortante por parte da inquiridora)... E bloqueei! Faltavam-me 3! Vergonhoso... Percebeu-se no meu olhar que a fonte da sabedoria estava tão seca como a maioria das minhas piadas, e foi a J que adicionou Flores, Graciosa e Corvo, com o maior desdém que um açoreano pode ter por um continental que não saiba de cor as ilhas do mais belo arquipélago da galáxia (5 pontos positivos para o Z?).
Pensei que tinha borrado a pintura de forma permanente, e que a minha história com a J terminara naquele instante... A verdade é que ela foi uma fofa. Conseguiu perdoar a minha ignorância, e ainda se divertiu mais um pouco com a minha aflição, quando questionou "Sabes em que grupos se dividem as ilhas nos Açores? É fácil, todos os dias se fala nisso no telejornal, na meteorologia...", e eu, que vejo religiosamente telejornais, não soube sequer começar a responder.

A conversa prosseguiu, regressando à toada de paz inicial, toda envolta naquela excitação de estar a conhecer uma pessoa nova, e dar-lhe a conhecer aspectos da nossa vida. Acho que terá sido essa excitação que me fez deixar passar o "Sou benfiquista." com que fui brindado, sem ter tido um ataque cardíaco, agora que penso nisso... Mas tudo ficou melhor, até que disse a segunda pior coisa que podemos dizer a um açoreano (micaelense ou não). Afirmava a J, "Lá nos Açores...", e completou com algo relacionado com a sua terra natal. Poderia ter respondido "Aqui no Porto..." e completado com algo relacionado com a minha terra natal? Sim, poderia e deveria! Mas foi um "Aqui em Portugal..." que me saiu boca fora. De novo a expressão serial killer voltou aos traços da J. "Com que então Açores não faz parte de Portugal?", atirou-me, secamente, como que disfarçando a ofensa que a minha frase provocou.

E foi assim, com duas saídas fenomenais que me estreei na vida da J. Ainda hoje não consigo perceber como isto deu certo. Ou eu sou realmente um ser humano extraordinário (opção que eu próprio, desde já, coloco de parte), ou é a J que revela um sentido de compaixão que deixaria muito boa gente de queixo caído. E realmente gosta de mim. Mesmo eu sendo um continental, que no primeiro contacto mais sério com uma açoreana picarota conseguiu cometer duas gaffes imperdoáveis. Amigos(as), procurem evitar cometer estes erros: eu sei que tive sorte, mas sei também que poderia ter facilmente terminado a noite à porta das Urgências, com uma fractura do osso malar, e sem 3 ou 4 dentes.

Atenção às aulas de geografia e á parte da meteorologia no Telejornal: as ilhas estão divididas em grupos que são todos diferentes (pese embora as temperaturas e a imagem de céu nublado dadas pela meteorologia serem iguais durante todo o ano).




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sexta-feira, 2 de maio de 2014

Começar? Pelo início...

Ja sabemos, hoje em dia há milhões de blogs de casais, que adoram falar sobre montes de coisas de que os casais adoram falar... Se este nosso espacinho é original? Não. Se estamos muuuuito abalados por esse facto? Também não. Eu, J, e o Z - meu companheiro de vida - somos uns seguidores vorazes de toda essa panóplia de excelentes blogs que andam na berlinda, e queremos que se divirtam por estas bandas (nem que seja 1/5 do que nos divertimos a ler os nossos blogs favoritos).
As nossas origens não podiam ser mais diferentes. O Z, nasceu no Porto, cresceu no Porto e agora vive... na Maia, que para todos os efeitos fica na área metropolitana do Porto. É portanto um tripeiro de gema.
Eu, J, nasci na ilha do Pico (mais precisamente na Madalena), nos Açores, e tenho família espalhada pelas ilhas do mais belo arquipélago desta galáxia. Vivi em Lisboa, e quando dei por isso, estava também no Porto. Sou uma picarota orgulhosa, mas não posso deixar de admitir que o Porto já faz parte de mim.
Depois a história é simples: conhecemo-nos, achámo-nos piada e aqui estamos, no sofá do nosso lar, a criar um blogue. Um clássico, portanto!
Vamos falar muito disto mesmo por aqui. Vamos falar das nossas origens e, sempre que possível, enviar a ocasional piadola sobre as origens do outro. Vamos também falar um bocadinho do que é viver com outra pessoa, sem ter na testa aquele rótulo de "estar casado". Deixemo-nos de rodeios, vamos falar do que nos apetecer! E rezar para que gostem do que por aqui se irá escrever.
E pronto, é tudo!
Bem-vindos!

Beijos e Abraços

J e Z