quinta-feira, 15 de maio de 2014

"Tripeirização" da J

Nota prévia: o texto seguinte está bem regado de palavrões. Tentei disfarçá-los com asteriscos mas, não adianta muito...  De qualquer forma, considerem-se avisados!

Pertencer a um clã é algo que faz parte do nosso crescimento. Passamos do clã que nos é mais próximo (a família), para os clãs dos diferentes amigos que vamos fazendo ao longo da nossa vida (tantas vezes com laços iguais ou mais fortes do que a própria família). Podemos ser do clã que adora romances do Nicholas Sparks (eu não sou, e estão à vontade para me internar ou esbofetear se alguma vez me virem a folhear um livro dele), ou dos thrillers de espionagem de John Le Carré (se alguma vez lerem, levem bloco de notas para apontar o nome de todas as personagens). Mais novos, juntamo-nos aos clãs da música pesada, mas o nosso ouvido vai ficando mais exigente e acabamos por não conseguir resistir aos clássicos dos saudosos anos 70 e 80. Pertenceremos sempre a um clã desportivo (e nunca, mas nunca, mas nunca mudaremos) e vamos saltitando de clã político em clã político (consoante os tempos e... foda-se, sejamos honestos, as nossas necessidades). Depois temos os clãs geográficos, e individualizo: a J é do clã dos picarotos; eu sou do clã dos tripeiros.



Todos os que nos lêem se identificam com a sua "terra". De Norte a Sul, Litoral e Interior, Açores e Madeira, não há quem não sinta com orgulho as suas origens. Hoje vou falar-vos um pouco do que representa ser tripeiro.

Um tripeiro verdadeiro conhece a sua cidade de lés a lés. 
Carrega nos "b" com maior vontade e orgulho quando fala com alguém de fora.
Vai até à marginal de Gaia para poder olhar pela milésima ocasião para a Ribeira e admira com a mesma paixão da primeira vez cada pormenor de cada casa velhinha que se encavalita pela encosta acima.
Continua sem perceber como foi possível criar obras tão sublimes como as nossas pontes, as novas e as antigas, que de tão bem desenhadas, parecem extensões naturais de Porto e Gaia.

Não aceita que se diga "cão" quando toda a gente vê que está ali um "caounhe".
Não sabe o que é uma "sarjeta", quando é do conhecimento geral que no Porto há "boeiros".
"Caricas"? Pfff... Nas garrafas há "sameiras"!
Mergulha no bulício do Bolhão, banha-se no perfume do peixe fresco e das flores, sorri perante o atrevimento das peixeiras, e não sai sem levar alguma coisa para casa.

O cardápio de cervejas tem "Super Bock". O cardápio de bebidas semelhantes a cerveja tem "outras cervejas". Que, só por acaso, são uma m*rda. Desculpem...
Sente-se insultado se o tratam por Senhor e não por Menino. Sente-se ultrajado por ter sido tratado por Senhor e não "Sinhor". As meninas serão sempre Meninas (com um grande ênfase no "i"), sejam filhas, netas ou avós.

Se encontra um amigo de longa data na rua, não descansa enquanto não o "conbida" para ir lá a casa "comer até cair pó lado e mamar uns finos". E é fiel a esta promessa. 
Conduz como um assassino e é mais capaz de perdoar um insulto enviado pelo outro condutor do que uma buzinadela só porque o sinal virou para verde (moda nova que algum chico-esperto trouxe de "lá de baixo").
Brinda o condutor que buzinou, com um "Quié que queres oh filha da p*ta?!" enquanto olha indignado pelo retrovisor e encolhe os ombros com violência.

"Palavrões? Quéssa m*rda? Oooooh... Paaaash! (Pooois! dito em versão tripeira)."
Quando quer que parem de o incomodar diz "Ooooh bai-má loja".
Mesmo que não aprecie a "pomada", vai sentir um orgulho imenso em ver o Vinho do Porto a ser referido em filmes ou programas estrangeiros.

"Cabides" são locais atrás de portas (ou pregados em paredes) onde se pendura alguma peça de roupa. "Cruzetas" são os suportes que vemos dentro dos armários, para colocar fatos (por exemplo). Toda a gente sabe disto malta!
Come francesinha, ama francesinha, sabe que só no Porto há boas francesinhas e só não acompanha a francesinha com um fino se estiver a tomar antibiótico (e mesmo assim pensa duas vezes...).
Come tripas, rojões e redenho frito como quem come pão com manteiga.
Come na "Tasca da Badalhoca" e tem a maior honra em poder comer num sítio com tal nome. Continua sem compreender como há quem faça cara feia quando sabe que há uma "Tasca da Badalhoca" onde toda a gente gosta de comer. 
Até pode já ter provado caracóis e adorado o petisco, mas nunca o vai admitir.

Ontem, hoje e sempre vai estar convencido que "c*ralho" é efectivamente uma bengala verbal. E Deus sabe como nós amaaaamos usar bengalas verbais no dia a dia.

Até pode admitir que há outras cidades belíssimas em conversas com outros tripeiros, mas para "os de fora", o Porto... é a mais bela cidade do Mundo c*ralho!

Faltarão aqui diversas características, mas não vos queria cansar com tanta perfeição...
A J veio para o Porto em 2006 mas, como é óbvio, só em 2008 começou a descobrir o verdadeiro Porto e o verdadeiro significado de tripeiro. Obviamente porque foi nesse ano que me conheceu!
Adoro a J. Amo as origens da J. Fui poucas vezes ao Pico (com muita pena minha), mas sinto-me sempre em casa quando lá estou. Também aquele pedaço de paraíso está repleto de pessoas maravilhosas (começando pelo JM e pela F) que sabem receber como ninguém. Não quero nunca que a J perca essa identidade, porque foi assim que a conheci e que por ela me perdi de amores.
Mas quando no outro dia, enquanto a J conduzia - ia eu no lugar do pendura -, o indivíduo da frente fez uma enorme asneira e ainda protestou com a J, tendo ela soltado "Obelá, oh seu filho da p*ta, precisas que te ensine a conduzir, c*ralho??", seguido do gesticular e do encolher de ombros, confesso que uma lágrima de orgulho me rolou pela face. Pensei "Já está... Esta já é das nossas!".

J, considera-te "tripeirizada".

Beijinhos e abraços,





7 comentários:

  1. ESPETACULAR!!! E MAIS NUM DIGO, CA****O!!!

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  2. Duas paixões que se unem e dão origem a algo inédito: uma picarota-tripeira ! eheh :)

    N

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    1. Novas espécies a surgir no mundo! Esta poderá ser digna de documentário no National Geographic!! Beijinho N. Obrigada

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  3. Existe a possibilidade de se ser um "tripeiro" sem carta? :p

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    1. Sem dúvida, embora com a promessa de que o amor pela "francesinha" não falha!!

      Obrigada por passares por aqui ;)

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